Maria Maria, de Minas Gerais, foi a única vinícola brasileira a receber medalha de ouro no concurso Decanter World Wine Awards “Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria, mistura a dor e a alegria”. Como na canção composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, a mistura de dor e alegria deu origem à vinícola Maria Maria, única brasileira a receber em 2025 medalha de ouro no Decanter World Wine Awards, principal concurso de vinhos do mundo.
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O vinho Isabela Syrah 2023 recebeu 96 pontos na avaliação dos jurados do Decanter, sendo o vinho nacional mais bem avaliado entre 145 rótulos brasileiros premiados na edição deste ano. O Isabela Syrah é um vinho tinto seco, produzido em 2023, com uvas Syrah cultivadas na Fazenda Capetinga, que pertence à vinícola, localizada em Boa Esperança, no sul de Minas Gerais.
De acordo com a avaliação feita pelos juízes, o vinho possui notas de morangos, cerejas, cravos, anis, toque de couro e charcutaria, com persistência doce e picante no final. A vinícola informou que a bebida foi resultado de várias vinificações em parcelas, com tempos de maceração variando entre 10 e 20 dias, que depois foram cortados entre si.
Vinho Isabela Syrah 2023 da vinícola Maria Maria
Divulgação
A história da vinícola Maria Maria começa em consequência de uma dor de Eduardo Junqueira Nogueira Junior, quinta geração de cafeicultores de Três Pontas (MG). Em 2006, aos 57 anos de idade, o produtor sofreu um ataque cardíaco. Por orientação médica, precisou mudar hábitos de vida, entre eles, trocar a cerveja por uma taça de vinho por dia.
A mudança de hábito fez nascer no produtor uma paixão pela bebida e pela vitivinicultura, que começou a estudar. Em 2007, conheceu o processo de dupla poda, recém-desenvolvida por Murillo de Albuquerque Regina, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e produtor.
A técnica consiste na realização de duas podas por ano, no inverno e no verão. Isso permite que a maturação e a colheita das uvas ocorra no inverno, invertendo o ciclo de vida da videira. Para produtores da região, a mudança favorece o cultivo, considerando que o inverno tem grande amplitude térmica e menor índice de chuvas.
Eduardo Junqueira Nogueira Neto, diretor comercial da vinícola e engenheiro-agrônomo, disse que a produtividade é menor com a dupla poda, mas isso é compensado pela qualidade. “A uva concentra melhor os polifenóis, os açúcares. Você consegue concentrar esses fatores porque precisa estar sem chuva no inverno. Você tem uma qualidade melhor do fruto”, explicou.
Para o diretor, a premiação valida a técnica do cultivo da dupla poda, adotada pelos produtores do sul de Minas Gerais. “Pela dupla poda a gente consegue fazer vinhos mais concentrados, com um pouco mais de teor alcoólico. A premiação confirma a qualidade da nossa produção com a dupla poda e do terroir da região”, afirmou.
Em 2009, os irmãos Eduardo Junqueira Nogueira Junior, Sylvia Ines, Antonio Augusto e José Geraldo, começaram a implantar os vinhedos na Fazenda Capetinga. No começo, a família plantou uvas Syrah, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Cabernet Sauvignon. Mas, com o passar dos anos, optou por manter apenas as variedades Syrah e Sauvignon Blanc, que se adaptaram melhor à região.
Atualmente, a vinícola mantém 21 hectares de área plantada, sendo 15 hectares de uvas Syrah e 6 hectares de Sauvignon Blanc.
Vinícola mantém 21 hectares de área plantada
Divulgação
O nome Maria Maria é uma homenagem ao amigo da família, o cantor e compositor Milton Nascimento. Nascido em Três Pontas (MG), como os fundadores, Milton conheceu a vinícola e autorizou o uso do nome de sua canção.
A primeira safra foi produzida em 2013, com três tipos de vinho, um branco, um tinto e um rosé. Todos os vinhos são batizados com nomes de mulheres importantes para a companhia.
O vinho Isabela Syrah 2023 recebeu o nome em homenagem à enóloga da vinícola, Isabela Peregrino. A produção do vinho é feita em tanques de aço inox, sem passar por barricas de carvalho. O objetivo é evidenciar a fruta e o terroir do sul de Minas.
Por ano, a vinícola produz em torno de 50 mil garrafas. Atualmente, a Maria Maria tem em portfólio o Juliana, um Rosè Syrah 2024; o Júlia, um Sauvignon Blanc 2024; o Gaia, um Syrah, 2021; o Gaia, Gran Reserva Syrah 2021; e o premiado Isabela, um Syrah 2023.
A família fundadora também segue com a produção de café, com 400 hectares de área plantada na região. A produção de café arábica é exportada como café verde para Europa, Estados Unidos e Japão. “Hoje as uvas estão 100% rodeadas de cafezais, e eu acho que isso também influencia na qualidade do produto”, disse o diretor comercial.