
Vinícola de São Roque (SP) surpreende visitantes ao introduzir caixinha de som nas caves; degustação dos rótulos também é feita com as melodias Uma vinícola artesanal da cidade de São Roque, no interior de São Paulo, tem atraído turistas por uma curiosidade no seu processo de envelhecimento dos vinhos: três caves da propriedade receberam caixinhas de som para tocar músicas diariamente durante descanso dos vinhos.
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São três tipos de vinho que descansam duas horas por dia ao som de melodias selecionadas pelo enólogo e proprietário da vinícola Bella Quinta, Gustavo Borges. O Bella Quinta Gran Reserva Musical, um tinto seco de Cabernet Sauvignon, Merlot, Teroldego e Alicante, descansa ao som de Almir Sater. A primeira música do consagrado compositor brasileiro a ser utilizada foi “Um violeiro toca”. Agora, Borges selecionou “Portão Preto”.
“Foi um prazer conversar com um compositor tão talentoso com o Almir e receber não só a permissão, como as bençãos dele para nosso projeto. Unir arte à produção do vinho, que também envolve criatividade e dedicação aos detalhes, era um sonho para mim”, conta Borges.
A dupla Sá & Guarabyra também cedeu o direito à Bella Quinta para utilização da melodia “Cinamomo” no envelhecimento do Bella Quinta Reserva Musical II, um tinto seco, feito a partir de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat.
Já o Bella Quinta Reserva Musical I, um tinto seco de Merlot e Cabernet Sauvignon, fica por conta de composições do produtor musical americano Eric Silver, que já gravou com Almir Sater.
Na degustação harmonizada oferecida pela vinícola, os vinhos também são apreciados aos sons das respectivas músicas. Borges explica que, além de sua admiração pela arte, as escolhas estão fundamentadas em estudos internacionais publicados em periódicos científicos.
Gustavo Borges (e), proprietário da vinícola Bella Quinta, e o cantor Almir Sater (d)
Divulgação
Benefícios
Os austríacos Thomas Koeberl e Markus Bachmann, que são eno-gastronomistas, foram pioneiros ao sugerir que a música tem efeitos sobre o vinho durante o processo de fermentação. A teoria é conhecida como “Sonor Wines” e aponta que o vinho se torna mais refinado quando é fermentado ao som de música clássica, no exemplo demonstrado por eles.
Segundo a dupla, ao introduzir uma pequena caixinha de som nos tanques de fermentação, ocorre uma reação natural entre o suco e as ondas sonoras. Esse processo deixa o vinho com menos açúcar, o que torna a bebida mais complexa e profunda.
Já a iniciativa de atrelar música à degustação de vinho é baseada em estudo publicado pela revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, difundido no Brasil por Marcelo Copello, no livro “Vinhos & Algo Mais”, que indica que o prazer promovido pela música pode influenciar na nossa percepção de sabor.
O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de McGill (Canadá) e do Massachusetts General Hospital (Estados Unidos) e sugere que as ondas sonoras estimulam áreas específicas do cérebro – as mesmas relacionadas ao prazer. Desta forma, alguém que prove um vinho após ter acionado tais partes do cérebro teria essa percepção será mais completa.
Gustavo Borges conta que a prática tem agradado aos turistas que visitam a adega. “A aceitação foi tanta que os clientes que compram esses vinhos passaram a pedir as referências musicais para ouvir em casa também. A saída, então, foi criarmos um QR Code que direciona o cliente diretamente aos clipes das músicas no Youtube”, conta.
Sobre o aprimoramento dos vinhos que ouvem música, ele diz sentir leves mudanças. “Acredito que com o tempo e variação das nuances, essas alterações possam ser mais acentuadas”, finaliza.
Roteiro do Vinho
Em São Roque fica localizado o Roteiro do Vinho, composto por 57 estabelecimentos, sendo 18 vinícolas. Além das adegas para vendas dos rótulos locais, as vinícolas investem em experiências de enoturismo, como visitação aos parreirais para contemplar o pôr-do-sol, piqueniques, colheitas noturnas, vindima (festa para pisa da uva), luais e degustações harmonizadas. A cidade atrai cerca de 1 milhão de visitantes por ano.
O Sindusvinho (Sindicato da Indústria do Vinho de São Roque) posiciona a cidade como “incubadora de vinícolas”, destacando o movimento dos vitivinicultores locais para criação e divulgação de vinhos finos – um posicionamento diferentemente do que popularizou a cidade nas décadas anteriores, famosa pelos vinhos de mesa.




