Na cidade de Guajará (AM), na divisa entre o Acre e o Amazonas, a engenheira agrônoma Gabriela do Nascimento Herrera busca entender como vespas parasitoides podem se tornar aliadas dos produtores de mandioca no controle de pragas. Natural do Acre e doutoranda na UFSCar, Gabriela decidiu estudar o uso natural dessas vespas na agricultura familiar amazônica, onde o uso de defensivos químicos ainda é raro, pelo caráter familiar das produções.
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“A mandioca é a cultura mais importante para a subsistência na região. E como muitos produtores não usam agrotóxicos nem fertilizantes químicos, o ambiente ainda preserva uma diversidade grande de insetos”, explica Gabriela. O trabalho é orientado pela professora Angélica Maria Penteado-Dias.
O grupo estudado pertence à superfamília Ichneumonoidea, formada por vespas que colocam seus ovos dentro de lagartas, as futuras pragas das lavouras. Quando a larva da vespa nasce, ela se desenvolve dentro do hospedeiro, impedindo sua ação e matando-o. Na prática, fazem o trabalho de controle biológico de forma natural e sustentável.
A pesquisa faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitoides (INCT), com coletas a cada 15 dias feitas em armadilhas adaptadas instaladas em alturas diferentes do solo, tanto em mata nativa quanto na lavoura de mandioca da propriedade do pai da pesquisadora. Gabriela também planeja uma coleta ampla de lagartas em propriedades vizinhas para identificar, por análise de DNA, quais espécies de vespas estão emergindo como agentes de controle natural.
Segundo ela, apesar da presença das vespas ser perceptível, ainda há muitas lacunas científicas sobre o assunto. “A Amazônia ocidental ainda é muito pouco explorada. Só no meu mestrado, com três meses de campo, já encontramos espécies novas de Ichneumonoidea que nunca haviam sido registradas na região”, conta. No doutorado, o experimento em campo vai durar um ano inteiro, até 2026, para permitir a observação de padrões sazonais e diversidade completa.
Gabriela acredita que os dados obtidos poderão formar uma base para o desenvolvimento futuro de programas comerciais de controle biológico para a mandioca, como já existem para culturas como soja e milho. “Essas vespas já estão lá, atuando naturalmente. Se conseguirmos entender melhor como funcionam, o produtor poderá economizar e preservar o meio ambiente ao mesmo tempo”, conclui.
*Sob orientação de Marcelo Beledeli