Duas décadas atrás, o imunizante chegou a responder por 35% do mercado veterinário para a bovinocultura As vacinas contra a febre aftosa já foram o carro-chefe das vendas da indústria de saúde animal no Brasil. Duas décadas atrás, muito antes do reconhecimento do país como área livre da doença sem vacinação, que a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) ratificará em cerimônia em Paris, na França, nesta sexta-feira (6/6), o imunizante chegou a responder por 35% do mercado veterinário para a bovinocultura (corte e leite). Esse nicho representa cerca de 50% das vendas totais da indústria.
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Atualmente, o mercado brasileiro de produtos veterinários fatura R$ 12 bilhões por ano. Com o fim da imunização contra a aftosa, a indústria deixará de vender R$ 300 milhões ao ano a partir de 2025, montante que corresponde a 5% da receita dos produtos para bovinos e a 3% da movimentação total do mercado.
Ainda que o imunizante já tenha sido o principal produto da indústria de saúde animal, sua virtual “despedida” acabou não causando grandes problemas para as fabricantes, que se prepararam antecipadamente para o fim da imunização obrigatória contra a doença no país. No ano passado, o Ministério da Agricultura decidiu antecipar o cronograma de retirada de vacinação para acelerar o processo de obtenção da certificação da OMSA. Na última imunização, em 2024, ocorreu a aplicação de quase 80 mil doses de vacinas. Antes, a previsão era encerrar a aplicação neste ano.
Mesmo com o novo quadro, as empresas ressaltam a importância de os criadores seguirem aplicando outras imunizações e usarem produtos veterinários para manter a sanidade do rebanho brasileiro nos próximos anos. De acordo com Emílio Salani, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Saúde Animal (Sindan), o segmento reconheceu a necessidade de adaptar estratégias à nova realidade do rebanho brasileiro.
Salani ressaltou, por outro lado, que a manutenção da saúde do rebanho brasileiro exige a continuidade no uso de outras vacinas, como contra a brucelose e a raiva, e demais profilaxias necessárias no manejo animal. Atualmente, a vacina contra brucelose é a única obrigatória no Brasil. Ao todo, aplicam-se, por ano, 26 milhões de doses. Já a vacinação contra raiva é obrigatória em regiões endêmicas, que, hoje, cobrem cerca de 70% do território brasileiro. A estimativa do Sindan é de que se apliquem 157 milhões de doses do produto por ano.
“Não podemos abandonar a profilaxia para nos prevenir contra doenças que não são erradicáveis, como a raiva”, afirmou Salani. “Os pecuaristas com boa performance vão crescer. Aqueles que não vão bem com o rebanho vão se defender com margens cada vez mais estreitas”.
Segundo o dirigente, uma das iniciativas da indústria de saúde animal para se adaptar ao fim da vacinação obrigatória contra a aftosa foi priorizar a venda de protocolos reprodutivos. Esses itens garantem expansão e aumento da produtividade do rebanho.
A indústria já identificou uma queda nas vendas de vacinas que não obrigatórias nos últimos anos. Salani disse que o movimento não tem uma razão única, mas que ele preocupa a indústria. “As vendas e aplicações desses produtos têm caído, o que pode levar a uma perda do status sanitário”, pontuou. A estabilização econômica e comercial, com melhoras no preço da arroba bovina, pode inverter esse quadro, avaliou.