A tuberculose bovina (TB) causa perdas anuais de cerca de US$ 3 bilhões na pecuária de corte mundial. E, além de afetar rebanhos, coloca em risco a saúde humana. A zoonose causada pela bactéria Mycobacterium bovis pode ser transmitida pelo contato direto com animais infectados, e pelo consumo de carne, leite e derivados sem a devida inspeção sanitária.
O diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Marcelo de Andrade Mota, explica que a tuberculose atinge entre 0,16% e 9% dos rebanhos do Brasil. A maior prevalência é observada em sistemas de produção leiteira intensiva, com maior densidade populacional de animais. Boas práticas de manejo são importantes para reduzir riscos.
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Estudos do próprio Ministério, Universidade de São Paulo (USP) e de agências estaduais de vigilância agropecuária mapearam os riscos por região do país. Entre os principais fatores que podem favorecer a propagação da doença estão a aquisição e trânsito de animais não testados, manejo inadequado de grandes rebanhos, falta de cuidados com a ordenha de vacas leiteiras, seja a manual ou mecanizada.
Norte
Pará: 3,1% dos rebanhos e 0,24% dos animais.
Rondônia: 2,3% dos rebanhos e 0,12% dos animais.
Nordeste
Paraíba: 4,6% dos rebanhos e 2,5% dos animais.
Bahia: 1,6% dos rebanhos e 0,21% dos animais.
Pernambuco: 2,87% dos rebanhos e 0,62% dos animais.
Centro-oeste
Mato Grosso do Sul: 1,3% dos rebanhos e 0,035% dos animais.
Mato Grosso: 1,3% dos rebanhos e 0,12% dos animais.
Goiás: 3,43% dos rebanhos e 0,30% dos animais.
Distrito Federal: 0,36% dos rebanhos e 0,05% dos animais.
Sudeste
Minas Gerais: 4,25% dos rebanhos e 0,56% dos animais.
Espírito Santo: 7,6% dos rebanhos e 0,70% dos animais.
São Paulo: 9% dos rebanhos e 1,3% dos animais.
Sul
Paraná: 2,15% dos rebanhos e 0,42% dos animais em 2016, e de 2,5% e 0,35% em 2022.
Rio Grande do Sul: 2,8% dos rebanhos e 0,7% dos animais.
Santa Catarina: 0,5% dos rebanhos e 0,06% dos animais.
Quais os sintomas da tuberculose bovina?
A doença acarreta perdas econômicas relevantes, devido à queda na produção leiteira, emagrecimento progressivo, eliminação de animais com diagnóstico positivo e condenações de carcaça em abatedouros, sendo imprescindível a adoção de medidas sanitárias para o controle da doença nos rebanhos e, consequentemente, evitar a transmissão aos seres humanos.
Nos animais, a infecção pode levar a quadros clínicos graves, causando lesões granulomatosas, que variam conforme o órgão atingido, como sintomas neurológicos, quando o sistema nervoso é afetado, por exemplo. Os sintomas incluem tosse persistente, febre à tarde, sudorese à noite, emagrecimento e falta de apetite.
Quais os riscos para a saúde humana?
Por ser uma zoonose, pode ser transmitida de animais para pessoas, pelo consumo de produtos de origem animal contaminados pela bactéria Mycobacterium bovis. Diferentemente da tuberculose humana, causada por M. tuberculosis, e que atinge mais os pulmões, a tuberculose bovina costuma provocar formas extrapulmonares, afetando outros órgãos.
As populações mais vulneráveis incluem:
Imigrantes de países onde a doença animal é endêmica;
Trabalhadores de abatedouros e indústrias de produtos de origem animal;
Profissionais que lidam diretamente com o gado;
Médicos veterinários.
O que fazer se o rebanho estiver infectado?
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) destaca que o consumo responsável, aliado ao cumprimento das normas sanitárias por parte dos produtores, é fundamental para proteger a saúde pública, preservar a competitividade do agronegócio e assegurar a imagem internacional do Brasil como fornecedor de alimentos seguros.
O controle e a fiscalização das normas é regido pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), coordenado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. O programa prevê testagem dos animais e abate sanitário dos positivos, além de regras para certificação de propriedades livres da doença.
Segundo a diretora de Comunicação da Delegacia do Anffa Sindical no Distrito Federal e chefe da Divisão de Controle da Brucelose e da Tuberculose Animal do Mapa, Patricia Santana Ferreira, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal estabelece medidas como a testagem obrigatória de animais para trânsito interestadual para fins de reprodução e participação em aglomerações, a eliminação de reagentes positivos sob supervisão oficial, a vigilância epidemiológica e o saneamento obrigatório.
A adesão rigorosa a essas ações, aliada à fiscalização oficial, é indispensável para evitar a disseminação da enfermidade. “Entre outras medidas de prevenção estão a exigência de exames negativos de brucelose e tuberculose antes da introdução de novos animais ao rebanho, a testagem periódica do rebanho, e evitar o consumo de carne, leite e derivados sem inspeção sanitária oficial”, destaca a especialista.
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E os alimentos infectados?
No Brasil, o pesquisador da Embrapa Flabio Ribeiro de Araújo, lembra que a comercialização e o consumo humano direto de leite cru são proibidos, justamente por representar um risco elevado para transmissão da doença. E a pasteurização é altamente eficaz para eliminar o M. bovis e outros microrganismos perigosos para a saúde pública.
Ele adverte que ainda é comum ouvir a ideia de que o leite cru seria mais “forte” ou mais nutritivo do que o pasteurizado. Diz, no entanto, que é mito. “Não há comprovação científica que sustente essa crença, e insistir nesse consumo pode trazer sérias consequências para a saúde”, aponta.
Se não pode ser diretamente consumido, o leite cru tem outros usos permitidos por lei. Serve, por exemplo, como ingrediente na produção de queijos artesanais que passam por um período mínimo de maturação. O pesquisador pontua que essa etapa que ajuda a reduzir riscos. E acrescenta que esse tipo de utilização do leite segue normas higiênico-sanitárias específicas que as diferenciam do consumo humano direto.