A carne bovina foi incluída na taxação de 50% dos Estados Unidos, apesar dos apelos de empresários brasileiros e norte-americanos. O presidente Donald Trump ignorou argumentos apresentados pelo Meat Import Council of America (Mica), o conselho de importadores do país, de que a proteína do Brasil é complementar a dos produtores locais e que representa um componente essencial para a fabricação de hambúrgueres. Na avaliação da entidade, a sobretaxa pode causar aumento de preços internos.
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A venda da proteína brasileira aos EUA estava em ascensão e chegou a 181 mil toneladas no primeiro semestre deste ano, com faturamento de US$ 1,04 bilhão. A expectativa era que as exportações alcançariam 400 mil toneladas até dezembro se não fossem as novas alíquotas, que agora podem chegar a 76%. Com a taxação, as perdas estimadas pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) é de US$ 1 bilhão até o fim de 2025.
Recentemente, o Mica informou que a maioria da carne bovina importada do Brasil chega na forma de “corte magro” para compensar a “escassez de oferta doméstica” dos EUA deste produto.

“Os EUA simplesmente não produzem o suficiente deste produto para atender à demanda doméstica. Este corte magro é combinado (ou moído) por processadores dos EUA com aparas de carne bovina produzidas internamente que têm um teor de gordura muito maior, resultando no hambúrguer perfeito e outros produtos de carne moída que os americanos adoram comer”, informou em comunicado à imprensa.

Nos cálculos da entidade, a carne bovina magra importada, do Brasil e de outros fornecedores, contribuiu para os US$ 15,3 bilhões de carne moída comprada pelos consumidores dos EUA em 2024, um aumento de 10% em relação a 2023.

“A carne bovina importada é um componente essencial na produção de um produto de alta qualidade que atenda aos padrões do consumidor americano. Uma tarifa mais alta aplicada às importações de carne bovina brasileira (ou de qualquer fornecedor estrangeiro) resultará em preços mais altos que os consumidores americanos pagam pela carne moída no varejo e no setor de serviços alimentícios”, apontou, no comunicado.

O mesmo argumento foi apresentado pelos exportadores brasileiros. Como se trata de uma carne “ingrediente”, produzida especificamente para atender à demanda dos processadores norte-americanos, alguns frigoríficos interromperam a produção desses cortes.

Recentemente, a Marfrig informou ao Ministério da Agricultura que deixou de destinar parte da produção da unidade de Várzea Grande (MT) para a certificação, pela inspeção federal, para os EUA. Não houve paralisação, mas redirecionamento das cargas que iriam para os norte-americanos para outros países, informou uma fonte familiarizada com o assunto. A planta tem habilitação para exportar para mais de 20 destinos. Procurada, a companhia não quis se manifestar.

A suspensão da certificação aos EUA, com a iminência da taxação, e a tentativa de redirecionamento das cargas para outros destinos são medidas adotadas em outras unidades produtoras, afirmou Paulo Mustefaga, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Não há, no entanto, notícias sobre a interrupção da produção, cancelamento de turnos, férias coletivas ou demissões no setor.