
Apesar de ser uma das maiores capitais do Brasil, Porto Alegre também possui uma extensa zona rural, com 4 mil hectares. A área, no extremo sul do município, é ocupada, principalmente, por pequenas propriedades de hortifrútis, sítios de lazer e haras para criações de cavalos.
Mas uma das “preciosidades rurais” da capital gaúcha é uma microqueijaria, que surgiu a partir de um projeto de “mudança de vida” de um jovem casal de advogados.
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A ‘Tempo Naturalmente Queijo’ foi criada por Rodrigo Polidori e sua esposa, Mariana Guarienti. Tudo começou em 2017, quando o casal mudou-se para uma casa construída em um sítio de 1,6 hectares que pertencia à família de Rodrigo na zona sul de Porto Alegre. Na época, a propriedade tinha algumas vacas, que produziam leite para consumo doméstico.
Microqueijaria em Porto Alegre
“Começamos a fazer queijo com uma ideia de produzir e consumir alimentos mais naturais, uma mudança de estilo de vida. Mas a gente morava aqui e ainda trabalhava na cidade”, comenta Mariana, que estudou a produção de queijos artesanais para cumprir essa meta.
No entanto, o início foi difícil, lembra Rodrigo, que hoje é responsável pelos cuidados com os animais e com as pastagens. “A gente não tinha a menor noção básica de manejo pecuário, as vacas começaram a emagrecer, e decidimos vendê-las.”
Em 2023, queijaria recebeu o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF)
Leonardo Nogueira/Divulgação
O impulso para iniciar a queijaria veio com a pandemia. Em 2021, Rodrigo foi demitido da empresa onde trabalhava, e Mariana decidiu sair de seu emprego também. O objetivo era fazer do campo o seu “ganha-pão”.
Em 2023, veio a grande “virada de chave”, quando a queijaria recebeu o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que permite a venda para todo o Brasil. Com isso, a Naturalmente Queijo, que tem uma produção de apenas seis quilos por dia, tornou-se uma das menores queijarias do país a conquistar essa permissão.
“Nossas vendas ainda ocorrem muito aqui no Rio Grande do Sul, mas já temos clientes em outros Estados”, destaca Mariana.
Os queijos artesanais da Tempo Naturalmente são fabricados a partir do leite cru, sem pasteurização. “Nossa contagem de bactérias é 100 vezes menor do que o limite permitido. Além disso, quando estão prontos, já estão naturalmente sem lactose, que é consumida pelos microrganismos”, explica Mariana. “São produtos autorais, receitas nossas, que expressam muito o terroir local”, acrescenta.
Queijos são fabricados a partir do leite cru, sem pasteurização
Leonardo Nogueira/Divulgação
Atualmente, a queijaria trabalha com três tipos de queijos:
Temprano: queijo com dois meses de maturação, casca amarela, leve presença de mofo branco espontâneo;
Florêncio: feito em dois tamanhos, é um queijo de mofo azul, mais cremoso e amanteigado, também com 60 dias de maturação;
Sete Luas: com sete meses de maturação, é mais alaranjado ou dourada, e leva azeite de oliva arbequina na casca;
Mariana Guarienti e Rodrigo Polidori trocaram carreira no Direito pela fabricação de queijos
Leonardo Nogueira/Divulgação
Bem-estar animal
O segredo para a qualidade do queijo vem das três “funcionárias” da queijaria: Vitória, Capela e Alice, as vacas Jersey da propriedade. Cada uma delas produz cerca de 20 litros por dia.
Segundo Rodrigo, diante das restrições de área da propriedade, os animais demandam um grande cuidado de bem-estar para fornecer leite em alta quantidade e boa qualidade.
“Investimos na ideia de ter menos animais, mas produzindo melhor. Assim, oferecemos mais espaço para as vacas, mais conforto e mais pasto. Elas não competem por sobra, abrigo, ou alimento”, explica.
Nome inspirado em música
O nome curioso da queijaria, sugerido por Rodrigo, foi inspirado pela música Canção Agalopada, de Zé Ramalho, especialmente o trecho “foi um tempo que o tempo não esquece”. Segundo o pecuarista, a escolha é uma referência aos processos naturais da criação dos queijos.
“Tudo tem a ver com o tempo, o cronológico e o climático. Temos os ciclos das pastagens, dos solos, os ciclos de gestação e vida das vacas, a maturação do queijo. E também a sazonalidade, as estações do ano, que vão influenciar no queijo”, explica.






