
As recentes tensões entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, acenderam o alerta em relação a negócios com um produto do qual o agro brasileiro é bastante dependente: os fertilizantes russos. A nova ameaça do americano é impor tarifas sobre países que negociam com a Rússia, caso não haja um acordo de paz com a Ucrânia.
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Os fertilizantes russos são os mais importados pelo Brasil, junto com os de Belarus. Respondem por cerca de 30% da demanda por insumos como ureia, fosfato monoamônico (MAP) e cloreto de potássio. Depois, aparecem China (18%), Canadá (12%), Marrocos (7%) e Egito (5,5%). Os Estados Unidos representam apenas 3% das importações brasileiras.
O analista de mercado de fertilizantes da Agrinvest, Jeferson Souza, pontua que a Rússia é um parceiro comercial importante do Brasil e, ao menos no curto prazo, não há substituto viável. Qualquer tentativa de troca de fornecedor poderia elevar os preços dos insumos e os custos de produção
“Ainda temos metade dos insumos do milho para adquirir e parte significativa da soja que será plantada nos próximos meses. Qualquer interrupção traria um caos generalizado no setor”, alerta. “O produtor pagaria a conta, como já ocorre na Europa, onde sanções encareceram os fertilizantes e tornaram a agricultura local inviável em vários casos”, acrescenta.
A situação do Brasil, no entanto, é diferente. Souza avalia que é baixo o risco de problemas na cadeia de fornecimento de adubo, devido a tensões entre russos e americanos. “A maior sanção que os Estados Unidos poderiam dirigir ao Brasil já foi aplicada: a tarifa de 50%.”
Apesar das especulações, o especialista defende que o mercado ignora o risco. “Ninguém está precificando isso (sanções a quem negocia com a Rússia).” Para ele, se houvesse um movimento mais sólido por parte dos Estados Unidos, os preços já teriam reagido — o que não ocorreu até o momento.
Na avaliação do especialista, a discussão envolve um conflito de soberania. “Não é razoável o Brasil tenha sua política de importações ditada por interesses externos. Os Estados Unidos também compram fertilizantes da Rússia, e não podem exigir que o Brasil pare de fazê-lo.”