
O empresário Gustavo Vervloet começou a fazer cursos e harmonização de vinhos finos em seu restaurante Quinta dos Manacás, fundado há dez anos no município de Domingos Martins, a 1.050 metros de altitude, na região das Montanhas Capixabas.
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Os vinhos se tornaram uma paixão e ele foi estudar a técnica da dupla poda criada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) com o objetivo de agregar mais valor a seu negócio, que inclui uma pousada com 12 chalés com vista para a beleza natural da rocha Pedra Azul que, dependendo da incidência solar, e do musgo na pedra pode mudar de cor e assumir tons de azul e verde.
Hoje, a propriedade da família Vervloet é uma das quatro no Estado que produz uvas viníferas. Em sua quinta safra, com 2.400 plantas, o empresário planeja a construção no terreno de uma vinícola para processar seus vinhos com a marca Cave Rara. Enquanto o prédio não sobe, ele envia à noite suas uvas das variedades sirah e sauvignon blanc para processamento na vinícola da Epamig, em Espírito Santo do Pinhal (SP), com a consultoria do enólogo chileno Cristian Sepulveda.
Gustavo Vervloet, proprietário da Quinta dos Manacás, de Domingos Martins (ES)
Eliane Silva/Globo Rural
“Já temos alta gastronomia na região. Agora estou encantado com esse horizonte que se abre de uma rota de vinhos na Pedra Azul. Nosso desafio é dominar a tecnologia, cuidar da adubação das plantas e pelo menos dobrar a produtividade do vinhedo”, diz o produtor que colhe 1 kg por planta no período do inverno e produz 700 litros de vinho tinto e branco, o equivalente a cerca de 1.000 garrafas por safra.
Gustavo reconhece que fazer vinho fino de qualidade ainda é uma coisa distante, mas diz que ele e os outros três produtores estão “plantando a semente”. Por enquanto o vinho boutique Cave Rara só é servido no restaurante da família.
De olho na vertente do enoturismo, o Sebrae passou a apoiar os quatro produtores capixabas. Pedro Rigo, superintendente estadual do órgão, diz que o Espírito Santo já planta uvas há 35 anos, mas o foco eram as frutas de mesa.
“Estamos incorporando o projeto de uvas de inverno para a produção de vinho finos, não só com apoio total a esses quatro produtores, mas estimulando para que outros possam investir nessa cultura a partir de um projeto que vai ser inaugurado aqui, com a parceria da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).”
Vinhos produzidos pela família Vervloet
Eliane Silva/Globo Rural
O superintendente ressalta que o Sebrae vai lançar um modelo de negócio para quem quer produzir a uva para vinho fino, visando estimular a criação de mais vinícolas no Estado, que tem atualmente três cantinas ante as dezenas de cervejarias artesanais.
Durante a RuralturES, feira promovida pelo Sebrae com parceiros em Venda Nova do Imigrante de 14 a 17 de agosto, o Incaper apresentou a produtores um estudo de viabilidade de áreas no Estado para o plantio de uvas para vinhos finos.
O trabalho foi apresentado pelo pesquisador Samuel Coura, que destacou o potencial das regiões serranas, cujas condições de clima e altitude se assemelham às de Minas Gerais e São Paulo, Estados onde a vitivinicultura de inverno já é consolidada.
O levantamento identificou condições preliminarmente favoráveis ao cultivo em áreas de mais de 30 municípios capixabas.
A dupla poda das videiras é feita para induzir o ciclo produtivo a ocorrer no outono-inverno, fora do período tradicional de colheita da região sul do país, que produz a maioria dos vinhos finos brasileiros. Essa prática favorece a maturação em condições climáticas mais secas e amenas, garantindo maior sanidade dos cachos, melhor concentração de açúcares, compostos fenólicos e aromáticos, resultando em vinhos de maior qualidade.
*A jornalista visitou as Montanhas Capixabas a convite do Sebrae-ES






