As tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos geraram impactos imediatos nos preços internacionais de fertilizantes e abriram espaço para a Rússia ampliar sua participação nas importações norte-americanas. De fornecedora irrelevante há pouco mais de uma década, a Rússia passou a responder por dois terços do volume importado pelos EUA em junho deste ano.
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Segundo Tomás Pernías, analista de inteligência de mercado da StoneX, o efeito das tarifas aplicadas pela Casa Branca, que variam de 10% a 50%, foi rapidamente perceptível no segmento de fertilizantes, ao contrário de outros setores da economia americana.
“Em outros segmentos, a gente ainda não está conseguindo mensurar de forma tão clara os impactos das tarifas norte-americanas e a gente ainda tá tentando entender quais são os desdobramentos. Contudo, no mercado de fertilizantes, esse não é um desses, porque a gente consegue ver sim impactos dessas taxas da Casa Branca no mercado de fertilizantes nos Estados Unidos”, afirma.
Um dos reflexos mais imediatos do anúncio da tarifa, segundo o analista, foi o aumento abrupto dos preços da ureia nos Estados Unidos, especialmente em maio de 2025. Naquele mês, o produto chegou a ser cotado a US$ 546 por tonelada no porto de Nova Orleans, enquanto no Brasil era negociado a US$ 376, uma diferença de US$ 180 por tonelada.
Essa disparidade, segundo Pernías, rompe com a média histórica entre os dois países. “Historicamente, a diferença de preço entre a ureia no Brasil e nos Estados Unidos gira em torno de zero. Às vezes o brasileiro paga mais caro, às vezes o norte-americano paga mais caro, mas essa diferença é geralmente equilibrada”, explica. O descolamento, portanto, foi interpretado como um efeito direto das tarifas impostas pelo governo americano.
Apesar da disparada inicial, os preços da ureia nos Estados Unidos voltaram à normalidade nos meses seguintes. Uma das explicações para essa reversão, segundo o analista da StoneX, é a entrada da Rússia como fornecedora relevante para o mercado americano, o que ajudou a suavizar os efeitos das tarifas e a reequilibrar os preços internos.
Em 2008, a participação russa nas importações de ureia dos EUA era de 0%. Em 2024, essa fatia subiu para 35%. De setembro de 2024 a junho de 2025, a participação da Rússia saltou de 27% para 67% das compras americanas do fertilizante. “Parece que essa normalização dos preços nos Estados Unidos pode estar muito relacionada com o aumento da presença da Rússia nas importações”, observa Pernías.
O crescimento da dependência dos Estados Unidos em relação à ureia russa acontece em meio a um cenário geopolítico tenso. Segundo Pernías, há receios crescentes de que a Casa Branca venha a considerar sanções ou novas tarifas contra países que mantêm relações comerciais com a Rússia.
“Se os Estados Unidos sancionarem os países que compram fertilizantes, um dos mais afetados e primeiros afetados vão ser os próprios compradores dos Estados Unidos. Então existe essa contradição aqui em andamento no mercado de fertilizantes”, aponta o analista.