Os Estados Unidos, destino de cerca de 40 mil toneladas anuais de tabaco brasileiro, já receberam 60% do volume previsto para 2025 até julho. A antecipação, segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Valmor Thesing, ocorreu porque as indústrias aceleraram seus embarques após o comunicado do tarifaço do presidente americano, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros.
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Os outros 40%, que representam apenas 1% da produção anual brasileira, devem ser destinados nos próximos meses para outros países, se não houver algum acordo, já que os importadores americanos suspenderam as compras do Brasil por não suportar a taxa de 50%. Os Estados Unidos são o terceiro maior comprador do produto nacional.
No início deste ano, o tabaco brasileiro pagava uma tarifa média de US$ 0,375 por quilo para entrar nos EUA. Esse valor foi acrescido em 10% em abril, no primeiro anúncio feito por Trump.
O dirigente acredita que há boas chances de remanejar as 16 mil toneladas que ainda seguiram para os Estados Unidos neste ano porque nos últimos dois anos tanto o Brasil como outros produtores tiveram problemas climáticos que causaram uma falta do produto no mercado global.
“O que nos preocupa são os três próximos anos. Para a safra 25/26, as indústrias já fizeram contratos de compra com os produtores integrados para o primeiro semestre e vão manter o que foi contratado. Se não tiver nenhum acordo entre os governos, será preciso encontrar compradores para as 40 mil toneladas em outros países”, afirma Thesing.
Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco
Felipe Krause/SindiTabaco
Segundo o presidente, isso não deve ser muito difícil no caso das 30 mil toneladas do tipo Virgínia, o tabaco mais plantado no país. Já as 10 mil da variedade Burley, que tem baixo teor de açúcar e alto teor de nicotina, o oposto da Virgínia, não têm muito mercado fora dos Estados Unidos.
Thesing diz que participou de várias reuniões em julho com a esperança frustrada de o tabaco, um produto vegetal, ser incluído na lista de exceções do governo americano. Ele diz que ainda mantém uma pontinha de esperança porque Trump fez vários acordos com outros países depois de ameaçar com tarifas mais pesadas. “Por enquanto, achamos que é uma guerra de narrativas.”
No ano passado, o setor exportou 455 mil toneladas com uma receita de R$ 2,98 bilhões. A meta deste ano de crescer 10% em volume e em receita ficou comprometida com o tarifaço. “Vamos ter que rever os números deste ano, mas a receita não deve ser inferior a R$ 3 bilhões”.
Segundo dados do MDIC/ComexStat (Sistema de Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), de janeiro a junho deste ano, foram embarcadas 206.518 toneladas de tabaco, totalizando uma receita de US$ 1,36 bilhão. O volume exportado no primeiro semestre foi 5,77% superior ao dos primeiros seis meses de 2024, quando o Brasil vendeu 195.261 toneladas.
O Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador de tabaco do mundo, seguido pela Índia, que exporta cerca de 250 mil toneladas. União Europeia e Extremo Oriente são as regiões que mais recebem tabaco brasileiro, com 34% cada uma, seguidos pela África e Oriente Médio (15%), América do Norte (9%) e América Latina (8%).
Individualmente, o maior comprador do produto brasileiro é a Bélgica, com US$ 639 milhões, seguida pela China (US$ 585 milhões) e EUA (US$ 255 milhões). Na sequência, vêm Egito, Indonésia e Vietnã. Juntos, os seis países são responsáveis por dois terços da receita anual de exportação do tabaco.