
O Brasil ganhou um reforço de peso para tentar atingir a meta de converter ou recuperar áreas de pastagens degradadas e transformá-las em campos ou lavouras produtivas nos próximos dez anos. A pesquisadora Mariangela Hungria, primeira mulher brasileira a receber o World Food Prize, considerado o Prêmio Nobel da Agricultura, pelo seu trabalho com microbiologia do solo, afirmou que sua maior dedicação até o fim da carreira será em estudos para solucionar o passivo ambiental das terras em degradação a partir de soluções biológicas.
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“Agora, para o final da carreira, minha grande dedicação tem sido no problema que eu classifico como ainda o nosso maior passivo ambiental que são as pastagens degradadas. Nós já estamos com excelentes soluções biológicas, com as quais conseguimos não só dar mais biomassa, mais comida para o gado, como comida de melhor qualidade”, afirmou a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Segundo ela, com a melhoria da qualidade das pastagens, será possível “liberar” até 50% de toda área que se tem atualmente em uso no país, com potencial de dobrar a produção agrícola sem ter que derrubar nenhuma árvore.
“Vamos recuperar isso, dobrar a produção nacional sem ter que derrubar uma árvore. Temos pelo menos 80 milhões de hectares que podemos passar para a agricultura, e ainda expandindo a produção de carne e de gado se aumentarmos a qualidade da pastagem, recuperar esses solos que estão sem vida”, completou.
Segundo ela, a tecnologia pode ajudar a acelerar a estratégia do Ministério da Agricultura de recuperar 40 milhões de hectares degradados em dez anos. “Nós já temos o primeiro produto da Embrapa lançado no mercado para pastagens, mas precisamos realmente acelerar a adoção, investir, mostrar mais para o agricultor como é vantajoso, e em todas as áreas de pastagens”, disse Mariangela. “É uma coisa única no mundo, ninguém tem”, completou.
Homenagem
Na semana passada, Mariangela Hungria recebeu a Medalha de Mérito Apolônio Salles por suas contribuições para a agricultura sustentável. A medalha foi entregue pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em cerimônia na sede do ministério em Brasília.
Mariangela Hungria é a primeira mulher brasileira a receber o World Food Prize
Luciano Pascoal
A pesquisadora ressaltou ainda que o Brasil já lidera a adoção de bioinsumos na agricultura, mas que o número ainda é incipiente.
“Hoje nós temos a liderança mundial no uso de biológicos na agricultura, mas mesmo assim é muito pouco. É 15% no máximo em relação aos químicos. Temos tecnologia ‘prontinha’ para atingir 50% ou 60%. Essa tecnologia precisa atingir os pequenos agricultores. Precisamos investir em ciência e tecnologia disruptivas, porque eu realmente acredito que podemos chegar até 100% de vários biológicos na agricultura”, completou.
“Sabemos ainda que estamos engatinhando”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, à imprensa após a entrega da medalha à pesquisadora.
“Fiz um compromisso de que ainda na minha gestão vamos investir mais no desenvolvimento dessa tecnologia. Ainda mais em tempos em que devemos prestar conta do sistema produtivo, do respeito ao meio ambiente. Essa certamente é uma das grandes vitrines brasileiras para o mundo. Tenho certeza que o mundo vai vir aqui comprar e buscar essa tecnologia”, completou.
Exemplos na COP
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, disse que, com a realização da COP30 em Belém (PA), o Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo as tecnologias que já desenvolveu e que pode compartilhar com outros países para melhorar e aumentar a produção de alimentos.
“Toda essa pesquisa da Mariângela na área de bioinsumos, que a Embrapa trabalha há mais de 40 anos, nós vamos mostrar para o mundo inteiro que temos sim uma agricultura sustentável nas três dimensões: ambiental, econômica e social. É importante aproveitar esse momento da COP30, mostrar essa trajetória do futuro, que a agricultura brasileira já está preparada, para mostrar que a agricultura brasileira é uma potência agroambiental”, afirmou.






