
Atuar em todos elos dos sistemas agroalimentares é essencial para a segurança alimentar da população A intensificação das mudanças climáticas vem provocando instabilidades na produção agrícola, com redução da oferta de alimentos e aumento dos preços, conforme apontado pela Carta da Conjuntura Econômica do IBRE/FGV, em março de 2025.
Saiba-mais taboola
O problema está na mira também do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), segundo o qual, com o aumento da temperatura global, houve queda generalizada na produtividade de culturas, da pecuária, da pesca e da aquicultura. O alerta aponta ainda para a diminuição da disponibilidade de água e para o aumento de pragas e doenças devido ao estresse térmico.
É um quadro crítico, cujas soluções precisam englobar todas as etapas relacionadas à disponibilização de alimentos, da produção no campo ao processamento, distribuição, consumo e descarte. Atuar em todos esses elos dos sistemas agroalimentares é essencial para a segurança alimentar da população, o cumprimento dos acordos climáticos e o desenvolvimento econômico global.
Globo Rural
Os sistemas produtivos convencionais contribuem significativamente para as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), como o metano proveniente da pecuária, e para a perda de biodiversidade. No Brasil, o setor agropecuário respondeu por 28% das emissões totais do país em 2023.
Outro efeito deletério dessas práticas agrícolas é a degradação do solo, que leva à abertura de novas áreas para plantio e pasto, favorecendo desmatamento e múltiplos impactos ecológicos, sociais e econômicos associados à degradação ambiental.
A transição para sistemas agroalimentares sustentáveis é uma resposta estratégica e eficaz à crise climática, fundamental não apenas para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa quanto para a transição rumo a modelos agrícolas mais adaptáveis e resilientes às novas condições climáticas.
Ao adotar práticas de baixo carbono, o setor agropecuário avança também para assegurar sua sustentabilidade e viabilidade econômica futura. A adoção de sistemas integrados de produção e o manejo adequado dos solos, por exemplo, podem resultar em ganhos econômicos significativos, preservando a renda dos agricultores e garantindo maior estabilidade ao mercado, pela diminuição da vulnerabilidade produtiva às mudanças no clima.
Leia mais opiniões de especialistas e lideranças do agro
Sair de modelos que contribuem para a degradação dos ecossistemas e dos solos para práticas mais plurais e diversificadas implica adotar soluções que consideram a biodiversidade e recuperam terras degradadas, com consequente aumento de lucratividade. Uma transição complexa como essa exige a combinação de ações variadas e o envolvimento de múltiplos atores.
É preciso construir e aprimorar políticas públicas que incentivem as práticas regenerativas e de baixo carbono; garantir o acesso ao financiamento dessas boas práticas; ampliar a transferência de conhecimento e tecnologia; e assegurar a inclusão de produtores familiares e comunidades rurais.
O Brasil já possui um Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (ABC+) e uma linha destinada a práticas de baixo carbono (Renovagro) no Plano Safra, visando expandir o uso de tecnologias agrícolas sustentáveis e compatíveis com as necessidades de mitigação e adaptação. Além disso, o país é signatário do Compromisso Global de Metano, que busca reduzir as emissões desse gás em 30% até 2030.
São iniciativas que demonstram o compromisso brasileiro, mas o engajamento dos produtores rurais é a peça-chave para o sucesso dessas alternativas. A verdadeira transformação depende de garantir que as políticas públicas já existentes sejam efetivamente implementadas e monitoradas e que haja um esforço conjunto entre governo, setor privado, setor produtivo e sociedade civil para promover essa mudança essencial.
*Eduardo Trevisan é diretor de Certificação e ESG e Renata Potenza é coordenadora de Ciência do Clima – ambos do Imaflora.
As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural.