O setor privado brasileiro, e o agronegócio em especial, precisa criar canais de relacionamento internacional, como um complemento à diplomacia tradicional. Foi o que afirmou, nesta segunda-feira (11/8), o embaixador Roberto Azevêdo, ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e consultor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
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“O setor privado precisa assumir um papel mais proativo. A diplomacia tradicional tem valor e mais necessidade de atuação do que no passado, mas precisa ser complementada pelo setor privado”, disse Azevêdo.
Ele fez as afirmações em palestra durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Abag e B3, em São Paulo. Explicou que o cenário geopolítico atual substituiu o multi pelo unilateralismo. Governos estão mais ideologicamente polarizados e organismos internacionais, como a própria OMC, enfraquecidos.
“Esse é o novo normal. E o novo normal é grave. O mundo em que estamos hoje é muito diferente do que tínhamos 20 anos atrás, e essas transformações são irreversíveis”, alertou.
Ele acrescentou que, atualmente, o protecionismo vai além das questões tarifárias e comerciais, e busca legitimidade em agendas de grande apelo social, como questões trabalhistas e ambientais.
Neste cenário, o agro brasileiro tende a encontrar mais dificuldades do que outros setores, na tentativa de construir alianças estratégicas. O que dificulta, disse o embaixador, é sua situação única em relação a outros países que têm a produção agropecuária como parte importante de sua atividade econômica: produz com qualidade, competitividade e em escala global.
Como protagonista setorial, o agro brasileiro enfrenta, de um lado, a resistência de outros produtores, que temem perder mercado. De outro, a resistência de outros mercados consumidores, que veem nas exportações do setor uma ameaça real ao seu tecido social, avaliou Azevêdo.
“Temos problemas em convencer produtores e consumidores. A aliança funciona, mas deve ser mais inteligente. Porque essa singularidade do agro brasileiro não pode ser justificativa para a inação, e não podemos ficar esperando que o governo faça tudo”, afirmou.
O ex-diretor da OMC avaliou que o agronegócio é solução para a segurança alimentar e energética, e para as mudanças climáticas. E os países de agricultura tropical, como o Brasil, devem se articular, mostrar sua produção e receber avaliações com base em métricas condizentes com sua realidade.
“As métricas mudam, mas estamos vivendo com o que surgiu a partir de pesquisas que não são da agricultura tropical. Não há motivos para não conseguirmos fazer alianças com países de sistemas produtivos tropicais para mudar essas métricas e fazer valer essa realidade”, disse.