
O setor de pescados do Brasil quer um “olhar diferenciado” por parte do governo nas tratativas que terá com os Estados Unidos para negociar uma saída ante a tarifa de 50% imposta pelos norte-americanos para as exportações nacionais.
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Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), disse que os números das exportações brasileiras “não ferem” os Estados Unidos nem impactam no saldo da balança comercial, mas que o impacto social da interrupção dos embarques da produção nacional para lá, principalmente de tilápia, será muito relevante.
“Temos que olhar pragmaticamente e negociar, senão quem vai sofrer é quem mais precisa, o lado social, os mais pobres. No nosso setor, o impacto é na base da pirâmide”, disse ao Valor. Segundo ele, 20 mil pescadores artesanais, que trabalham de seis a oito meses por ano, seriam mais afetados, além de quatro mil empregos diretos gerados na indústria. “O potencial impacto social causado ao setor de pescados merece tratamento diferenciado e uma atenção especial do governo”, destacou.
Lobo afirmou que, diferentemente de outras cadeias impactadas pelo tarifaço, o setor de pescados não tem alternativas para redirecionar as suas exportações já que a venda dos produtos para a União Europeia continua suspensa desde 2018. “Nossas exportações são dependentes em 70% dos EUA. Não existe segunda opção”, disse.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 224,2 milhões em pescados para os EUA. Os norte-americanos são os principais compradores de tilápias, lagosta, pargo e atum brasileiros.
O executivo ainda comentou que o crescimento da produção e das exportações brasileiras de tilápia, carro-chefe da indústria nacional de pescados, foi incentivado pelos EUA. “Nos últimos 24 meses, todo crescimento foi em decorrência do incentivo do importador norte-americano, que migrou da China para Brasil, pela qualidade da nossa produção e pela política interna deles de ter menor dependência dos produtos chineses”, disse.
Segundo Lobo, a discussão de cotas para o setor também não é viável e que o produto brasileiro perderá a competitividade diante de produtos de países da América Central. “Estamos em franco crescimento. A cota não é viável, não temos alternativa”, disse. “Mesmo o México com a tarifa de 30%, podendo ser negociada para 20%, fica mais competitivo e mata a nossa concorrência”, apontou.
Lobo estará na reunião com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, nesta terça-feira (15/7), e vai defender uma carência mínima de 90 dias para a entrada em vigor de qualquer tarifa, caso não haja solução para a retirada das taxas anunciadas pelos EUA.