Às vésperas do início da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) em Belém (PA), cresce a preocupação do setor cooperativista do Pará de que bons exemplos de sustentabilidade dos produtores e extrativistas da Amazônia e do Brasil em geral sejam ofuscados no evento.
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Como a maior parte dos debates até agora ficou centrada nos problemas de infraestrutura para receber delegações estrangeiras na capital paraense, o receio é de que as ações já adotadas e o potencial de crescimento da bioeconomia da região sejam relegados ao segundo plano ou percam a oportunidade de exposição ao mundo.
Júnior Serra, superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) no Pará, diz que o cooperativismo tem ajudado a dar escala aos negócios de pequenos produtores e comunidades tradicionais do Estado, e com a manutenção da floresta em pé. Para ele, a conferência mundial do clima pode ser uma vitrine para os modelos de negócios sustentáveis da Amazônia. Mesmo assim, ele teme a falta de espaço para o tema na COP.
“Vejo a COP como um evento muito excludente desse modelo de negócio. Temos um desafio muito grande para conseguir mostrar esse modelo para quem quer apoiar”, afirma Serra.
Ele cita barreiras que chegaram a ser colocadas pela organização do evento para o consumo de alimentos locais nos restaurantes de Belém durante a conferência, medida já revertida pelo governo federal. “Não adianta poder vir para cá e não conhecer a realidade”, critica.
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A preocupação com a entrega das obras para o evento e as dificuldades de hospedagem na capital do Pará também atrapalham os debates. “Ficamos internamente no Brasil discutindo muita a problemática de logística, de hospedagem. Mas a falta é muito maior. Precisamos discutir, de fato, essa questão toda da inclusão da nossa sociobioeconomia, da nossa sociobiodiversidade, nesse discurso, de fato, na alta cúpula”, diz. “Os países que querem apoiar esse modelo precisam conhecê-lo. Para conhecer, tem que vir aqui para poder vivenciar isso”.
A OCB tenta dar visibilidade ao tema com participações em várias frentes nos preparativos para a COP30. O cooperativismo foi o primeiro setor a publicar um manifesto com diretrizes e objetivos para a conferência. E, na semana passada, um edital foi aberto para selecionar cooperativas que poderão expor seus produtos no evento.
A entidade também mapeou 57 cooperativas que já atuam com sociobioeconomia em 36 municípios do Pará. Uma delas é a Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta (Turiarte), de Santarém. O faturamento conjunto tem crescido e já alcançou R$ 123 milhões em 2022.
O cenário preocupa mais em um momento em que os efeitos das mudanças do clima se intensificam na vida e nos negócios das pessoas, e as discussões sobre o futuro do planeta se voltam para a necessidade de preservação da floresta amazônica. Para o superintendente, esse contexto contrasta com a aparente indiferença às vozes dos povos locais, que podem estar no centro das soluções para os problemas que a COP30 vai negociar.
Serra diz que é preciso consciência ambiental para discutir o apoio à sociobioeconomia e os caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
“Não tem como discutir isso de forma isolada. A Amazônia faz parte do mundo. Consciência ambiental, principalmente na Amazônia, não é não ter desenvolvimento. Porque se não tiver desenvolvimento aqui na região, como é que vai haver preservação?”, questiona.