
Empresas e associações que buscavam apoio de importadores americanos para tentar alinhar um acordo de tarifas com os EUA já jogaram a toalha para um entendimento até a sexta-feira, 1 de agosto. O Valor apurou que há líderes do setor industrial e do agronegócio defendendo outro movimento.
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Há um entendimento entre representantes empresariais de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa fazer um contato direto com Donald Trump nos próximos dias, de maneira a mostrar disposição de acordo, dizem fontes ouvidas dos setores de carnes, café, móveis e têxteis.
Isso não quer dizer que a tentativa de negociação das companhias, paralela ao governo, foi deixada de lado, mas que já está consolidada a percepção de que o tarifaço de 50% começará a valer nesta semana.
E, nesse cenário, um caminho que sinalizaria, diretamente para Trump, a disposição para um acordo seria o Brasil dar um primeiro passo para uma contato telefônico entre os presidentes.
O Valor apurou que já há divergências sobre o assunto dentro do quadro de diretoria e dos conselhos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Inclusive, na CNI, já haveria federações estaduais do Sul e Centro-Oeste, fortes na agropecuária, defendendo que se reforce, junto ao núcleo de negociação do governo, a necessidade de um contato direto de Lula a Trump.
Procuradas, as duas entidades não comentaram. A CNI informou que não tem essa confirmação.
“Nos acessos que tivemos com nossos compradores americanos, eles temem até mandar cartas ao governo americano, temem ser expostos. E quem enviou carta de apoio ao Brasil não teve resposta”, disse uma fonte ligada à indústria do café. “Então tem crescido [a defesa], entre os fornecedores, que Lula faça esse aceno. E que não tome o caminho das provocações.”
Na segunda-feira (28), a CNI publicou um comunicado nessa linha. Disse que é preciso “clarificar os entendimentos que levam a posições políticas exacerbadas”, e que o país não pode perder a razão e deve enfrentar os desafios de forma retilínea, mesmo tendo que enfrentar “situações adversas e ou provocativas”.
Ontem, a ministra Simone Tebet, do Planejamento, disse que não são vistos problemas nesse contato, mas que é preciso “um ponto de partida”.
O Valor apurou que, nos últimos dias, representantes do Ministério da Fazenda pediram que líderes de setores afetados, como carne, café e têxteis, encaminhem propostas que ajudem o governo na montagem do plano de apoio a esses segmentos.
Até a tarde de ontem, duas redes de varejo e atacarejo ouvidas afirmaram que fornecedores de alimentos ainda não iniciaram contatos para negociar a compra de produtos que seriam exportados aos EUA, como café e carne. Apenas no caso da manga houve contato de produtores que já vendiam para as redes, agora com reduções de até 20% no preço da última tabela de julho.