Mudança pode afetar a polinização das plantas pelas abelhas e a produção agrícola Uma pesquisa da Unesp publicada na revista inglesa Scientific Reports apontou que as mudanças climáticas têm efeito severo no valor calórico do néctar das flores, o que prejudica tanto polinizadores, como as abelhas, quanto as plantas que dependem de polinização cruzada para se reproduzir e frutificar. No caso de seca extrema ou prolongada, o valor calórico pode cair 95%. Em um cenário menos drástico, de redução de chuvas em 30%, a queda fica em 34%.
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A gravidade da ameaça de escassez severa de água foi ressaltada por relatório divulgado na última quarta-feira (2/7) pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), segundo o qual tanto regiões vulneráveis quanto desenvolvidas de todo o mundo foram atingidas por secas recordes nos dois últimos anos e esse padrão persiste em 2025.
Elza Guimarães, professora do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista e coordenadora da pesquisa publicada na Scientific Reports, afirmou que a redução de açúcares no néctar como efeito de secas, no pior cenário avaliado, foi de 1.300 quilos para 71 quilos por hectare, ou seja, mais de uma tonelada.
“Sem néctar para consumir, as abelhas vão embora, as plantas não se reproduzem e os agricultores perdem a produção”, disse em nota a coordenadora, que é vinculada ao Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima, um centro de pesquisa, inovação e difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), instituição que apoiou o estudo.
Maria Luisa Frigero, principal autora da pesquisa realizada durante seu mestrado no IBB-Unesp, disse que o trabalho mostrou que um acréscimo na pluviosidade teve um efeito positivo no aumento de calorias do néctar em 74%, mas uma alta frequência de chuvas também pode ter efeitos negativos.
“Uma alta frequência e intensidade de chuvas pode ter consequências devastadoras para as plantas, visitantes das flores como aves e insetos e para a própria manutenção das interações entre plantas e polinizadores.”
Os experimentos foram feitos com plantas de abobrinha cultivadas em estufa, irrigadas de modo a simular o regime de chuvas dos últimos 40 anos no mês de setembro, quando é normalmente cultivada na região de Botucatu. Foram produzidas 120 plantas em condições iguais de temperatura e disponibilidade de nutrientes e água até as primeiras folhas brotarem.
Pesquisadora Maria Luiza Frigério verifica os experimentos feitos com plantas de abobrinha cultivadas em estufa
Elza Guimarães/IBB-Unesp
Após esse período, foram divididas em quatro grupos de 30. Cada grupo recebeu um tratamento, de forma a simular diferentes condições de chuva. As plantas foram acompanhadas por 60 dias em estufa fechada para garantir que nenhum inseto consumisse o néctar. Durante esse período foram medidas a quantidade de néctar e a de açúcares totais contidos por flor e por planta.
O estudo teve ainda a colaboração de Carmen Boaro, fisiologista e professora do IBB-Unesp, e de Leonardo Galetto, ecólogo da Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina.