
A Organização Internacional do Cacau (ICCO na sigla inglês) prevê um aumento de 15% na safra de cacau 2024/25 no Brasil com a perspectiva de 210 mil toneladas de amêndoas no novo ciclo. A safra 2023/24 registrou 182 mil toneladas, em um cenário marcado pela escassez global de cacau e preços recordes da commodity na bolsa de Nova York que beirou os US$ 13 mil, e atualmente está estável na casa dos US$ 8 mil.
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Diante do cenário de preços elevados e oferta restrita, a indústria de cacau no Brasil tem se mobilizado para garantir o abastecimento da cadeia produtiva. Existe um movimento de empresas que têm iniciado produções próprias ou buscado parcerias com produtores rurais, para financiar insumos, mudas e infraestrutura em troca da entrega futura da produção.
O Itaú BBA estima que, entre áreas já implementadas e a intenção de novos projetos, há um potencial para a implantação de pelo menos mais 15 mil hectares de cacau em sistema de cultivo a pleno sol nos próximos anos.
“Caso todos os projetos sejam efetivados, a necessidade de investimentos pode alcançar aproximadamente R$ 2 bilhões, considerando a aquisição de máquinas, sistemas de irrigação, mudas e insumos”, estima a consultoria.
Com esses 15 mil hectares adicionais em plena produção, o Brasil será capaz de zerar sua necessidade de importação ou adicionar cerca de 40 mil toneladas de amêndoas para o processamento industrial, diz a consultoria.
Safra global
A entidade projeta a oferta global na safra 2024/25 (outubro a setembro) em 4,841 milhões de toneladas, o que representaria um incremento de 11% sobre a safra anterior, que fechou em 4,368 milhões de toneladas.
A Costa do Marfim, maior país produtor de cacau do mundo, deve chegar a 1,850 milhão de toneladas, com um aumento previsto de 10,5% em relação a 1,674 milhão de toneladas da safra 2023/24. Já Gana, segundo maior produtor, tem a expectativa de colher 600 mil toneladas, 33,6% mais do que as 449 do último ciclo.
O Itaú BBA pondera que, embora haja a perspectiva de recuperação, os níveis de produção da safra de 2022/23 não devem ser atingidos.
Segundo o relatório da consultoria agro, apesar das chuvas irregulares, os agricultores das principais regiões produtoras de cacau da Costa do Marfim relataram uma boa floração nas plantações. E, até o momento, o cenário é promissor. “As árvores apresentam folhagens saudáveis, não há registro de surtos de doenças e os produtores estão otimistas”, diz o relatório.
A baixa produção na última safra foi justificada pelas quedas nos dois maiores produtores – Costa do Marfim e Gana – que, juntos, representam quase 50% da oferta global. Mesmo com a menor colheita africana, o continente lidera com folga a produção da amêndoa, com 71% de participação, seguido pelas Américas, com 22% e Ásia e Oceania, com 6%.
As principais causas da queda na produção são o envelhecimento severo das lavouras. Segundo análise do Itaú BBA, estimativas apontam que 50% das árvores em Gana tenham mais de 30 anos. Além disso, surtos graves de doenças nos últimos anos, como a podridão parda e o vírus do mosaico do cacau (CSSV), também conhecido como doença do broto inchado, foram responsáveis pela derrubada na produção. E por fim, episódios de secas severas e chuvas fora de época também condenaram a produção.
Demanda
O consumo global de cacau foi resiliente até o início de 2024, mas começou a apresentar sinais de ajuste devido ao encarecimento da matéria-prima, avalia a consultoria.
As indústrias nos EUA e na Europa têm revisado formulações para reduzir o uso de cacau ou buscar alternativas com produtos de menor valor agregado. Diante disso, a expectativa é de nova queda para o consumo mundial de cacau na safra 2024/25, estimado pela ICCO em -3%, para 4,650 milhões de toneladas.
Os dados da Associação Europeia de Cacau (ECA) apontam uma redução de 2% na moagem em 2024 e, para o primeiro semestre de 2025, a queda foi de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já na Ásia, a moagem de cacau até apresentou estabilidade em 2024 em relação ao ano anterior, porém, para o primeiro semestre desse ano, a queda foi de 10% sobre o mesmo período do ano passado, segundo a Associação de Cacau da Ásia (CAA).
Preços
O mercado internacional de cacau passou por uma transformação nos últimos dois anos. Após um longo período de preços relativamente estáveis, o contrato futuro do cacau negociado em Nova York quebrou sucessivos recordes, até atingir o maior valor nominal da história, próximo a US$ 13 mil, reflexo do cenário de restrição de amêndoas. Os produtores brasileiros foram beneficiados com a marca histórica. De acordo com o Itaú BBA, a arroba de cacau (15 kg) ultrapassou R$ 1 mil em Ilhéus (BA), uma “marca histórica”.
A curva futura dos contratos em Nova York segue mostrando preços elevados até 2027, informa a consultoria. Ainda que haja expectativa de queda gradual diante da recuperação da oferta, as cotações devem permanecer acima da média histórica, indicando uma relativa escassez no curto prazo.