A safra brasileira de alcachofra de 2025 promete ser a melhor dos últimos dez anos. Em Piedade (SP), a colheita já começou em algumas propriedades e as flores estão maiores e com a cor roxa mais acentuada. “O inverno mais frio e prolongado favoreceu o desenvolvimento das plantações, que estão com ótimo rendimento”, conta o produtor Otávio Freitas Neves, do Sítio Miyazaki, um dos maiores do município, que desde o ano passado ostenta o título de capital nacional da alcachofra.
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Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponível sobre a cultura, de 2017, o município respondia por 65% da produção nacional da flor comestível. Agricultores locais, no entanto, estimam que atualmente Piedade concentre cerca de 80% da produção nacional, seguida por Ibiúna, São Roque e outras cidades paulistas. Estatísticas extraoficiais apontam para uma produção anual de cerca de 700 toneladas no município, que conta com cerca de 20 produtores entre pequenos, médios e grandes.
A maior parte da produção de Piedade segue para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que comercializou no ano passado 592,98 toneladas de alcachofra, das quais 592,70 toneladas foram oriundas de Piedade.
No Sítio Miyazaki, a expectativa para a safra atual é de 22 mil caixas, um crescimento de 10% sobre o ciclo passado, que ficou em 20 mil caixas. O peso das caixas varia de oito a 18 quilos, conforme o tamanho das flores. “Estamos com uma produção como há tempo não tínhamos, flores robustas e bem roxas, exatamente a preferência do consumidor”, diz Neves.
A flor comestível é formada por um conjunto de escamas e uma base carnosa. Além de ser um alimento nutritivo, tem propriedades medicinais, sendo fonte de vitamina C, ácido fólico, magnésio e potássio. Também é rica em fibras, segundo informativo da Embrapa Hortaliças, de 2022.
plantação de alcachofras – alcachofra
Sítio Miyazaki/Divulgação
Cultivo irrigado
A alcachofra foi trazida para o Brasil pelos italianos, maiores produtores mundiais, com colheita de cerca de 890 mil toneladas por ano. Da família asterácea, a mesma da alface, chicória e girassol, a flor comestível é cultivada como planta perene, com ciclos produtivos de três a quatro anos. Uma planta origina até seis flores, divididas em primária (uma unidade maior), secundárias (médias) e terciárias (menores).
Segundo Neves, a cultura demanda muita água, uma vez que suas raízes são superficiais e não exploram camadas profundas do solo. Por isso, o solo montanhoso de Piedade, com boa drenagem, favorece o cultivo. Na região as lavouras são irrigadas e a colheita é manual, envolvendo o ensacamento das flores no estágio final para que mantenham a cor arroxeada bem acentuada.
Outro produtor, João Luiz Osako, representante da terceira geração de sua família no cultivo de alcachofra, mantém em Piedade cerca de 10 hectares plantados. Para este ano, ele estima uma produtividade de mil caixas por hectare. Embora ainda não tenha iniciado a colheita, o produtor também vislumbra uma qualidade melhor este ano.
Crescimento lento
De acordo com agricultores, a alcachofra precisa crescer lentamente para a correta construção de fibras. “Quando o sol é muito forte, as flores são forçadas a abrir e terminar o ciclo rapidamente, mas no inverno deste ano elas puderam crescer lentamente originando um talo mais grosso, flores mais carnosas e coração (fundo) da alcachofra mais pesado”, explica Otávio Freitas Neves, que é reconhecido entre seus pares como um porta-voz do segmento.
Otávio Freitas Neves e a esposa Monize Miyazaki Neves plantam alcachofras no Sítio Miyazaki
Sítio Miyazaki/Divulgação
Depois de colhidas, as alcachofras são selecionadas. As mais vistosas seguem para o Ceagesp de São Paulo para serem comercializadas in natura, e para restaurantes, já as que têm algum defeito na aparência são comercializadas como descarte para indústria de conservas. “Este ano praticamente não temos descarte”, afirma Neves.
Este ano o Sítio Miyazaki faz a primeira colheita de uma nova variedade de alcachofra, importada da Itália, a Capriccio, que tem coloração naturalmente roxa e por isso dispensa o ensacamento. “Essa característica pode reduzir custos com mão de obra e aumentar nossa competitividade”, estima Neves, que plantou a Capriccio em 10% da área. “A variedade se adaptou muito bem à nossa região e estamos colhendo um produto excelente. Vamos ampliar o cultivo para 25% da nossa área”, conta.