
Os restos industriais da produção de celulose que, em geral, eram descartados passaram a ter um novo uso para economizar água de irrigação das florestas de eucalipto gerenciadas pela Suzano, em sua fábrica de Imperatriz (MA). Os dejetos viram um lodo orgânico, que pesquisadores locais estão testando em forma de gel, um jeito de barrar a evaporação da água do solo e economizar cerca de 60 mil litros de água por ano.
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O local de testes é a Fazenda Natividade, comprada pela Suzano em 2023 pelo alto potencial de virar projeto de conservação socioambiental. Para isso, a Suzano implantou o sistema desenvolvido na década de 1990 pela Embrapa, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
O sistema criado pela Embrapa tem um arranjo de quatro linhas, no qual a primeira é dedicada à lavoura, a segunda fica com a pastagem, a terceira é para o plantio de árvores e a quarta pode ser adaptada de acordo com as necessidades do produtor.
No caso da Fazenda Natividade, são 220 hectares no total, sendo metade dedicada à produção de eucalipto, e os outros 110, para pasto. Onde estão as árvores de babaçu não se mexe.
A Suzano não revelou o valor total do investimento, mas quer seguir na ideia de laboratório aberto para silvicultura em Imperatriz, onde está instalada sua terceira maior fábrica. O próximo passo é escalar a tecnologia do lodo primário.
Em fase de testes ainda, o produto biodegradável é obtido a partir de resíduos de fibra de celulose – até então um rejeito enviado a aterros industriais. A Suzano passou a investigar seu potencial de reaproveitamento, descobrindo que o material pode contribuir para a retenção de umidade no solo e, assim, reduzir o consumo de água nas áreas florestais. Além da economia hídrica, o lodo tem a capacidade de suprimir poeira, o que ajuda a evitar problemas respiratórios nas comunidades que vivem próximas às plantações de eucalipto.
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No entorno da Fazenda Natividade, vivem 15 comunidades, das quais 11 são formadas por extrativistas que se beneficiam da parceria com a Suzano para coleta e comercialização do coco babaçu. Já o plantio de eucalipto na área começou há um ano, com densidade média de 833 plantas por hectare, como parte de restauração de áreas por unidade de manejo florestal.
Até 2024, a empresa estava com 44,8 mil hectares em restauração por todo o Brasil. No Maranhão, a fatia é de pouco mais de mil hectares. A empresa estuda agora ampliar o projeto de ILPF, aprimorando o modelo de arrendamento de áreas integradas, consolidando o ILPF no Maranhão como modelo de negócio.
No arrendamento, a empresa assume as atividades operacionais, fornece mudas de eucalipto e assistência técnica, enquanto o produtor fica responsável pelo plantio e tratos culturais, conta o especialista em manejo florestal da empresa Alzemar Veroneze.
Para viabilizar a parceria, a multinacional abre mão de 25% do volume da madeira. O projeto está em fase-piloto. Na prática, o ILPF permite que o mesmo hectare gere renda contínua durante todo o ciclo produtivo, acrescenta Veroleze. A Suzano fica responsável pelo manejo do gado para assegurar a proteção dos babaçuais, o que isenta o produtor de custos extras.