
Em 2024, menos 1% das propriedades rurais foram responsáveis por 81% dos alertas de derrubada de mata nativa, segundo MapBiomas A atividade agropecuária foi responsável por 97% da perda de vegetação nativa do Brasil entre 2019 e 2024, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, do MapBiomas. Nesse intervalo, o país desmatou 9,88 milhões de hectares, sendo mais de 82,9% na Amazônia e no Cerrado.
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“A maioria dos produtores rurais não desmata. Esses produtores já entenderam que é possível aumentar a produtividade com um bom manejo e aprimoramento tecnológico, sem precisar ampliar a área de cultivo. São parceiros da conservação. O meio ambiente equilibrado é importante para a produtividade agrícola”, diz Marcos Rosa, coordenador técnico do projeto MapBiomas.
No entanto, a minoria que ainda reluta em se desfazer das práticas nocivas acaba prejudicando os esforços coletivos. Segundo o relatório, que o MapBiomas divulgou na quinta-feira (15/5), menos de 1% dos imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) concentram 81,4% de todos os alertas de desmatamento do país.
O levantamento mostra ainda que, dos imóveis com registro no CAR, 46,3% foram reincidentes no desmatamento no ano passado e 3,5% tiveram registro de desmate em todos os últimos seis anos.
O CAR é um registro público eletrônico, obrigatório para todas as propriedades rurais do país, que integra as informações ambientais dessas áreas. Para mensurar o desmate em imóveis rurais, o MapBiomas cruzou os dados da base de alertas validados e publicados de 2019 a 2024 com a base de imóveis rurais cadastrados no CAR, considerando uma área de desmatamento de, no mínimo, 0,3 hectare.
De acordo com o relatório, 19,9% das áreas desmatadas para a agropecuária faziam parte de reservas legais, locais das propriedades rurais que, por lei, são destinadas à conservação.
O Mapbiomas é uma rede colaborativa formada por universidades, ONGs e empresas de tecnologia. Para produzir o levantamento, a rede utiliza alertas provenientes de diversos sistemas de detecção para todos os biomas do Brasil, cruza os dados mais relevantes e reúne as informações sobre cada episódio de desmatamento.
“Nós utilizamos imagens de satélite de alta resolução para identificar a motivação do desmatamento, se é para garimpo, para expansão urbana, para o uso agropecuário, etc. No trabalho, observamos tanto o padrão de remoção da vegetação quanto o entorno da região”, explica o coordenador técnico Marcos Rosa.
Em 2024, o Brasil desmatou 1,24 milhão de hectares de vegetação nativa, o que representou uma queda de mais de 30% em relação ao ano anterior. Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia concentraram 42% do desmatamento no país.
Esses Estados, que formam a região conhecida como Matopiba, têm ampliado sua participação na produção agrícola nacional, principalmente no cultivo de grãos. Eles têm, somados, 4,8 milhões de hectares de lavouras de soja, o equivalente a 12,3% da área total de soja do Brasil.
Em 2024, o maior caso de desmatamento no Brasil ocorreu em uma propriedade rural localizada nos municípios de Canto do Buriti e Pavussu, no Piauí. A fazenda tinha autorização para o desmate, que somou 13.628 hectares.
Considerados todos os biomas, os imóveis rurais seguem como a categoria com a maior porcentagem de área desmatada. Para Rosa, os dados do levantamento são relevantes para o setor, principalmente com a nova regulamentação de importação de commodities da União Europeia, que visa a proibir a compra de produtos provenientes de áreas florestais desmatadas após 31 de dezembro de 2020, mesmo que o desmatamento tenha ocorrido legalmente.
“A União Europeia quer diferenciar os produtores. Se o país estabelece um bom sistema de controle, e o Brasil tem capacidade para fazer isso, a tendência é que o acesso ao mercado seja facilitado. Este é um diferencial nosso em relação a outros países”, afirma o coordenador técnico.
Segundo o relatório, a restrição poderá afetar cerca de 310 mil imóveis rurais no país. Para Rosa, a mudança não deve ser lida como um risco para a agropecuária, mas como uma forma de dar transparência à cadeia produtiva.