
Ela voltou para a roça para se tornar a primeira mulher a liderar negócio da família em cinco gerações Formada em sistemas de informação e com emprego de dez anos em Belo Horizonte, Christiane Brandão deixou tudo para voltar em 2012 para a roça em que nasceu e desenvolver o negócio tradicional da família: a produção de queijo artesanal na região do Serro, em Minas Gerais.
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Representante da quinta geração da família na produção de queijo, ela se tornou a primeira mulher a comandar o negócio, mas isso só foi possível após a morte do pai, que foi assassinado na própria fazenda em Santo Antônio do Itambé, no ponto mais alto da Serra do Espinhaço. Ela conta que o pai, que teve sete filhos com três mulheres, sendo quatro meninas, não admitia de jeito algum que uma mulher pudesse assumir a propriedade.
“Nunca encontrei a porta aberta pelo meu pai. Ele dizia que lugar de mulher era no tanque e no fogão, mas isso não foi empecilho. Eu nasci e cresci na roça, observava meu pai na produção de queijo e no manejo com o gado. A vida me trouxe de volta e tive a oportunidade de construir o meu sonho. O queijo do Serro me escolheu.”
Christiane assumiu o inventário da fazenda, que foi dividida em sete partes. Na sua área de 28 alqueires (ou 67,2 hectares) não havia nenhuma benfeitoria.
“Não tinha estradas nem qualquer construção. Tive que começar do zero, mas não desanimei, fui aprender o que era o queijo artesanal e fiz vários cursos de capacitação no Senar e no Sebrae. Em vez do queijo fresco que meu pai fazia, decidi restaurar a arte da cura dos antigos queijeiros da região e aprendi a maturar queijos, usando a receita que foi trazida há 300 anos da Ilha dos Açores e da Serra da Estrela, de Portugal.”
Queijo da Fazenda Maria Nunes, na região do Serro (MG)
Divulgação
Em 2015, ela se uniu a outros produtores da região do Serro, em projetos desenvolvidos pelo Sebrae Minas de criação da marca coletiva e passou a integrar o Conselho Regulador da IG (Indicação Geográfica) do Queijo do Serro, primeira região do país a obter esse reconhecimento para o queijo concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Privada (Inpi).
O queijo é feito com leite de vaca cru integral, coalho, pingo e sal. A massa crua é prensada a mão artesanalmente e depois o produto vai para maturação por pelo menos 17 dias. Nesse processo, a casca é lavada e escovada a cada três dias, o que chamam de ralação.
O investimento na qualidade do produto gerou reconhecimento nacional e internacional. O queijo da Fazenda Maria Nunes conquistou uma medalha de ouro e três de prata, no Mondial du Fromage (Mundial de Queijos e Produtos Lácteos), na França, além de sete medalhas no Mundial do Queijo no Brasil.
Atualmente, Christiane, com apenas uma funcionária, se levanta às 3h30 para retirar o leite de suas 20 vacas e fazer todo o processo de fabricação na agroindústria da fazenda. São produzidos 15 queijos por dia, que são comercializados por parceiros em outros Estados. Há também vendas por e-commerce e na própria fazenda, opção que ela pretende reforçar com a participação na Rota do Queijo da Região do Serro, projeto lançado pelo Sebrae Minas em 2024.
A coleta de leite na Maria Nunes só ocorre de manhã. “O leite da tarde é dos bezerros”, diz a produtora, que adotou a homeopatia no tratamento do gado e garante que a técnica resultou em um leite de melhor qualidade e mais bem-estar animal.
Christiane Brandão que passar o negócio da família para a filha Jady
Divulgação
Diferentemente do pai, a sucessão de Christiane, 42 anos, que também recria gado na fazenda, já está definida. Além de ser a primeira mulher no comando da propriedade, ela quer ser a primeira a passar o negócio para outra mulher: sua filha Jady, que cursa agronomia. Além disso, a neta Maitê, de um ano, é outra aposta para a continuidade do legado feminino.






