Ferramenta indica melhores janelas de semeadura em 28 municípios do estado, o terceiro maior produtor da leguminosa no Brasil Produtores de feijão em Goiás acabam de ganhar um aliado de peso no combate às perdas causadas pelo clima. Um estudo inédito da Embrapa Arroz e Feijão, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), identificou as melhores janelas de plantio do feijão das águas em 28 municípios goianos, com base em simulações feitas por um modelo computacional de ponta.
A pesquisa revelou que o momento ideal para semear pode fazer toda a diferença na produtividade, variando conforme a localização da lavoura. O estudo complementa o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e traz uma nova camada de precisão ao planejamento dos agricultores.
Tecnologia de ponta a favor do campo
Os cientistas utilizaram séries históricas para abastecer o modelo CSM-CROPGRO-Dry Bean, desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, em colaboração com o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), na Colômbia. O sistema cruza dados climáticos, do solo, genéticos e de manejo agrícola para simular o desempenho do feijoeiro em diferentes condições. Com isso, foi possível mapear períodos mais seguros para o plantio, minimizando os riscos de quebra na produção.
Em Goiás, a semeadura do feijão das águas coincide com o início da estação chuvosa no final de outubro e pode se estender até dezembro. É comum haver variabilidade da distribuição das chuvas pelo Estado. Por isso, a definição de janelas de semeadura e períodos com maior disponibilidade hídrica contribuem para a minimização da quebra da produtividade das lavouras.
Em regiões do leste do estado, por exemplo, o atraso na semeadura tende a aumentar o risco de perda. Já no oeste goiano, o plantio mais tardio pode ser mais vantajoso.
“O período de chuvas começa em outubro e se estende pelo verão, mas a redução da umidade acontece de forma desigual, indo do sul em direção ao noroeste. É isso que explica a diferença entre os municípios”, explica Alexandre Heinemann, da Embrapa.
Feijão germinando
Sebastião Araújo/Embrapa
Quando plantar?
O estudo testou oito datas de plantio entre o final de outubro e dezembro. Os resultados mostraram que:
Municípios do leste goiano, como Cristalina, Formosa e Catalão, devem priorizar a semeadura entre 20 de outubro e 10 de novembro.
Nas áreas do oeste, como Jataí, Rio Verde e Mineiros, o ideal é plantar mais para o fim de novembro ou até em dezembro.
Como o clima impacta o feijoeiro?
O déficit hídrico durante a fase reprodutiva é um dos maiores vilões do feijão. A falta de água afeta diretamente a formação de vagens e sementes. “Se faltar chuva na floração, a planta não atinge seu potencial de produção”, alerta o pesquisador Silvando Carlos da Silva, também da Embrapa.
Para atingir bons resultados, o feijão precisa de temperaturas entre 12°C e 30°C, com média ideal em torno de 21°C, além de água suficiente em momentos-chave do ciclo da planta.
Feijão em Sebastião Salgado (GO)
Embrapa
Modelagem preditiva
Além de simular o desenvolvimento das lavouras, os pesquisadores aplicaram uma técnica chamada Análise de Dados Funcionais (ADF), que ajuda a interpretar grandes volumes de informações coletadas ao longo do tempo — o chamado big data agrícola.
“Essa abordagem nos permitiu identificar, com mais precisão, as datas com menor risco climático para o cultivo do feijão”, afirma Heinemann.
Complemento ao Zarc
A ferramenta usada no estudo não substitui o Zarc, mas funciona como um complemento estratégico. Ela permite ao produtor antecipar riscos, gerenciar melhor os recursos e aumentar a resiliência da lavoura diante das incertezas climáticas.
Com o avanço da ciência e da tecnologia no campo, decisões mais acertadas sobre o calendário de plantio podem significar menos prejuízo e mais produtividade para quem vive do feijão — um dos alimentos mais importantes da mesa do brasileiro.