Iniciativa da Fundação Certi recebeu investimentos de R$ 22 milhões Áreas degradadas da Mata Atlântica em Santa Catarina estão sendo recuperadas por meio de um projeto que integra a participação de agricultores locais. Em uma primeira fase, já concluída, foram restaurados 262 hectares, o equivalente a mais de 260 campos de futebol.
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A iniciativa, chamada de Mais Floresta com Araucária, foi desenvolvida pela Fundação Certi, com apoio técnico da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), além de financiamento do BNDES Restauração Ecológica.
Uma segunda fase, recentemente iniciada, prevê a restauração de mais 300 hectares, com apoio financeiro do Ibama. Até o momento, os recursos totais para o projeto somam R$ 22 milhões, sendo R$ 3 milhões via BNDES e aproximadamente R$ 18 milhões em fase de implementação com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Atualmente, a Mata Atlântica está reduzida a menos de 3% de sua cobertura original. “Nossa intenção foi contribuir para esse ecossistema tão importante e fragilizado. Além do impacto ambiental positivo, a restauração beneficia a economia regional e o bem-estar das comunidades, promovendo segurança hídrica, geração de alimentos e oportunidades de renda”, afirma Victor Augusto Moreira, coordenador de projetos do Centro de Economia Verde da Certi.
A iniciativa conta com a participação das comunidades locais. Mais de 100 agricultores familiares foram capacitados em práticas agroecológicas e sustentáveis. Além disso, módulos agroflorestais foram instalados em assentamentos da reforma agrária. Nessas áreas, há a conciliação da recuperação ambiental com a produção de alimentos, como pinhão, erva-mate e frutas nativas.
Segundo Moreira, a contratação de mão de obra local foi prioridade. “Mais de 70% do investimento foi destinado a insumos e serviços implementados por pessoas da própria região, fortalecendo a economia local e valorizando o conhecimento do campo”, reforça.
Mudas são plantadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reservas Legais e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)
Divulgação
Ação estratégica
A restauração acontece nas regiões da Serra e do Meio Oeste catarinense, locais estratégicos para a recuperação da Floresta Ombrófila Mista, ecossistema caracterizado pela presença da araucária (Araucaria angustifolia), árvore símbolo do Sul do Brasil e produtora de pinhão, alimento de grande importância econômica para as comunidades locais.
Até o momento foram plantadas cerca de 40 mil mudas de espécies nativas como goiabeira-serrana, imbuia, erva-mate, casca-d’anta e outras que, além de enriquecerem a biodiversidade, ajudam a restabelecer os ciclos ecológicos, regular o clima, preservar nascentes e oferecer produtos que geram renda.
Os parceiros estratégicos contribuíram com a produção de mudas e também na capacitação de alunos e técnicos para atuarem na cadeia da restauração ecológica. “Foram instalados três viveiros florestais nas instituições parceiras, garantindo infraestrutura para a multiplicação de iniciativas semelhantes e o atendimento futuro a novas demandas ambientais”, conta Moreira.
A restauração contempla Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reservas Legais e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), formando um mosaico de áreas protegidas que devem apresentar recuperação plena em até dez anos. “Com o isolamento das áreas e o cuidado contínuo, é possível atingir um fluxo de vegetação maduro e funcional, com regeneração espontânea e serviços ecossistêmicos restabelecidos”, explica Moreira.