Iniativa em duas propriedades em Mato Grosso mensurou economias e aumento de rentabilidade na atividade agrícola e também na pecuária Um projeto-piloto em Mato Grosso, Estado que lidera a produção de grãos no Brasil, mostrou que o uso de tecnologias de Internet das Coisas (IoT) nas propriedades rurais é capaz de melhorar a eficiência operacional da propriedade, gerar um impacto ambiental positivo e de assegurar retorno financeiro para o produtor. A conclusão está no relatório de avaliação técnica e econômica da FIA Business School – Fundação Instituto de Administração.
Conectividade vira produto nas máquinas
Lançado primeiro indicador de conectividade rural do Brasil
O projeto “IoT Agronegócio Inteligente” ocorreu em duas das seis unidades da Boa Esperança Agropecuária, nas quais, em uma área de cerca de 35 mil hectares, há cultivo de grãos e algodão e criação de bovinos. A coordenação foi da Fundação CPQD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, e o projeto contou com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para a análise, duas aplicações com base em Internet das Coisas passaram por testes. Uma foi a telemetria da Solinftec instalada em máquinas agrícolas da Massey Ferguson, em parceria com a AGCO em Lucas do Rio Verde. Na outra frente, analisou-se o uso de uma plataforma de gestão no confinamento bovino, com apoio de @Tech, BeefTrader e Embrapa Gado de Corte em Sorriso.
Nos testes nas máquinas agrícolas, que ocorreram ao longo das safras 2021/22, 2022/23 e 2023/24, sensores monitoraram em tempo real variáveis como rotações por minuto, consumo de combustível e rendimento por hectare. Segundo o relatório, a tecnologia fez o consumo de diesel cair 23% e ampliou de 43,36 hectares para 51,74 hectares a área média de trabalho por dia.
Antes do projeto, as máquinas tinham alguns recursos, mas apenas o operador tinha acesso a eles. “Se houvesse uma falha, só descobriríamos depois de a operação ter sido finalizada, e isso atrasava as correções”, relata Juracy Dias, coordenador de operações mecanizadas da Boa Esperança. Sem o monitoramento em tempo real, ele conta, a análise dos dados levava até três dias. “Às vezes, já não dava tempo de corrigir ou de fazer uma aplicação. Tempo real é isso: tomar decisões na hora certa”.
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Andrei Perissinotto, gerente administrativo da Boa Esperança, complementa: “Hoje temos alarmes, como de aquecimento de motor, que evitam prejuízos”. A redução no consumo de diesel representou uma economia nas despesas operacionais e diminuição das emissões de CO2.
Segundo Nadia Alcantara, coordenadora da avaliação pela FIA, foi possível quantificar todo o gás carbônico que se evitou emitir na produção, o que pode gerar crédito de carbono. “É um resultado que você consegue se usar IoT. Sem, não é possível mensurar”, afirma. “A agricultura deixa de ser o problema e passa a ser a solução. Esse é o resultado”.
Na parte prática, avalia a coordenadora, o destaque foi a precisão na medição do trabalho do operador. “Com a tecnologia, você acompanha a rotina do operador de máquina e sabe quem se manteve nos parâmetros, quanto foi percorrido, se houve manutenção da máquina”, diz. Ela destaca ainda o benefício social do projeto. “A fazenda tem programas de engajamento de funcionários e pagamento de bônus por desempenho, além de treinar pessoas a usar tecnologias novas”.
Já na pecuária de precisão, a combinação de balanças automatizadas com a plataforma BeefTrader identificou o melhor ponto de venda dos animais das propriedades. Essa estratégia reduziu em até 70% as emissões de carbono por animal, diminuiu o consumo de água em 21% e elevou a rentabilidade por cabeça de gado. A estimativa da FIA é de um retorno econômico médio de R$ 32 mil por lote de 100 animais.
A análise da FIA apontou os principais desafios para a adoção dessas tecnologias em larga escala no Brasil, como a baixa conectividade em áreas rurais e o alto custo inicial para pequenos produtores. “Nós vimos que é necessário estimular outros projetos-piloto, de menor escala. Para conseguirmos chegar aos pequenos, precisamos da ajuda do governo, seja por financiamento ou extensão rural”, destaca a coordenadora.
O gerente administrativo da Boa Esperança, Andrei Perissinotto, avalia que, para pequenas e médias propriedades, o principal desafio para a disseminação das tecnologias é o acesso à internet. “Existem meios de conexão via satélite. A tendência é de que esses custos diminuam nos próximos anos, o que deve ajudar a aumentar a adoção”, diz.