
Entre 2020 e 2025, os produtores rurais gaúchos já sofreram uma perda de faturamento acumulada de R$ 126,3 bilhões devido a problemas climáticos, como estiagens e enchentes. Os dados foram apresentados pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) nesta terça-feira (16/12), durante coletiva de imprensa.
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Considerando a diferença entre as colheitas anuais esperadas nestes cinco anos e o que foi efetivamente retirado do campo, e tomando o ano de 2021 como referência de estabilidade climática, o Rio Grande do Sul deixou de produzir 48,6 milhões de toneladas de grãos no período, afirma a Farsul. O volume equivale a 851.847 carretas bitrem. Em fila, elas ocupariam uma distância de 25.555 quilômetros, o que equivale a quatro viagens de ida e quase três de volta entre Porto Alegre (RS) e Belém (PA) – uma distância de 3.980 quilômetros.
Em 2025, a agropecuária gaúcha registrou mais um ano de perdas. A Farsul estima uma frustração de 8 milhões de toneladas: de uma safra esperada de 39 milhões (arroz, milho, soja e trigo), colheu-se pouco mais de 31 milhões. Com isso, o Valor Bruto da Produção (VBP) do setor ficou frustrado em quase R$ 20 bilhões neste ano. A entidade espera que o PIB agropecuário do gaúcho encerre 2025 com queda de 10,66%.
“Vemos um cenário extremamente desafiador, especialmente diante dos rumos da economia brasileira”, afirmou o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Segundo o dirigente, são necessários investimentos em irrigação e manejo de solo, de modo a tornar as estiagens menos danosas, mas a situação financeira enfrentada pelos produtores deve prejudicar esses aportes. “Isso não é barato, e na crise que está o produtor gaúcho, é um processo que vai demorar ainda mais”, afirmou.
“Estamos na quinta safra consecutiva com perdas. Nós vamos ter uma perda de 6% na produção de grãos em comparação com a safra de 2024, que foi um ano muito ruim. O setor está em uma situação em que não conseguimos sair do fundo do poço”, disse Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul.
De acordo com a Farsul, após estiagens e enchentes consecutivas, a capacidade de pagamento dos produtores ficou comprometida, o que se refletiu em uma escalada sem precedentes da inadimplência. A taxa estadual saltou de 0,79% em agosto de 2024 para 3,28% em agosto de 2025. O estoque inadimplente passou de R$ 699 milhões para R$ 3,01 bilhões, uma alta de 331% em doze meses.
Esse ambiente obrigou as instituições financeiras a reverem sua postura de risco, elevando garantias, reduzindo a exposição e dificultando a contratação de crédito, especialmente entre os produtores arrendatários, que não dispõe de garantias reais, destaca a Farsul.
“Houve uma queda de 21% no número de tomadores de crédito rural no Rio Grande do Sul para plantar a safra 2025/26. E temos uma inadimplência de 11,4% no crédito rural por causa dos juros altos”, explica Antônio da Luz.
O desempenho das operações no Estado deixa essa restrição evidente. De acordo com dados do Banco Central analisados pela Farsul, no custeio, os valores tomados recuaram 10% no acumulado de 12 meses e 23% entre julho e novembro, enquanto os contratos caíram 13% e 20% no mesmo período.
Quando se observam as quatro culturas centrais para o Estado – soja, arroz, milho e trigo -, o quadro é ainda mais expressivo. Os valores tomados para soja caíram 38% e os contratos, 32%; no arroz, recuaram 19% e 14%; no milho, 4% e 9%; no trigo, 49% e 42%. Com isso, a participação dessas culturas no custeio caiu de 75% em 2024 para 60% em 2025, comprimindo ainda mais o desempenho da carteira.
No investimento, o quadro é ainda mais crítico: o Estado registrou retração de 23% nos valores contratados no acumulado de 12 meses e uma queda ainda mais acentuada de 41% no período entre julho e novembro, enquanto o número de contratos recuou 27% e 40%, respectivamente.
Endividamento
Na questão do endividamento rural, a Farsul defende a correção de entraves que a Medida Provisória 1314/2025 tem apresentado para a adesão dos produtores rurais gaúchos. O texto oferece alívio financeiro a produtores rurais e cooperativas afetados por perdas de safra devido a eventos climáticos adversos entre 2020 e 2024, autorizando até R$ 12 bilhões em linhas de crédito para renegociação de dívidas.
Entre as mudanças defendidas pela Federação estão a inclusão dos créditos da safra de 2025; alteração na data de corte de inadimplência; inclusão das operações já renegociadas, que o foram para manutenção da adimplência; preferência para inclusão das operações com juros livres; e elevação dos recursos, entre outros.
No entanto, a Farsul ainda prefere que a solução do problema passe pela aprovação do PL 5122/2023, que tramita no Congresso Nacional e trata da securitização e renegociação de dívidas rurais, autorizando o uso do Fundo Social (do pré-sal) para criar uma linha de crédito emergencial para agricultores afetados por desastres climáticos.
“Estamos trabalhando por melhorias na MP 1314. Se elas não forem suficientes, vamos apelar ao presidente do Senado para que paute o PL 5122, da securitização, que é muito mais abrangente”, afirmou Domingos Velho Lopes, novo presidente eleito da Farsul, que toma posse em 1 de janeiro.






