Produzir alimentos e obter renda do campo não se trata mais apenas de plantar, fazer os melhores manejos e colher. O trabalho do agricultor envolve cada vez mais conhecer e aplicar tecnologias e, principalmente, conectá-las, seja para encurtar processos, economizar insumos ou acertar a janela de plantio.
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É o que acredita Ricardo Campo, head de consultoria da Rural Insights, um ecossistema que investe e apoia startups do agro, e atualmente tem 600 agtechs em sua base. “Ter uma estrutura onde as tecnologias se comunicam reduz a aplicação incorreta de insumos, antecipa ocorrências climáticas e diminui operações desnecessárias no campo. No fim do dia, isso é dinheiro no bolso”, destaca Campo.
É o que ocorre na fazenda de Paulo Priori, no sudoeste de Goiás. Como muitos agricultores brasileiros, o produtor seguiu os passos do pai e manteve-se no campo, mas viu ao longo dos anos a necessidade de introduzir tecnologias na lavoura. Hoje, ele tem 3 mil hectares em Jataí (GO) com lavouras de soja, milho, feijão, trigo e arroz, onde diversos processos automatizados se conversam e permitem ganhos de eficiência e renda.
“Trabalhamos com agricultura de precisão, taxa variável de sementes, uso de drones e pivôs, inclusive pivôs por gotejamento, que permitem a aplicação localizada de fertilizantes em partes específicas do talhão”, exemplifica Priori.
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Para o produtor, aplicar tecnologia nos processos básicos do dia a dia no campo é uma necessidade. “O produtor rural precisa ser mais eficiente para conseguir se manter no negócio, ainda mais no cenário atual, com os custos tão elevados”, diz.
Em Barretos (SP), André Perrone gerencia o Confinamento Monte Alegre, com um rebanho estático de 20 mil cabeças. Para administrar a operação, ele utiliza o sistema SAP — sigla para Systems, Applications, and Products in Data Processing, uma das principais plataformas de gestão empresarial do mundo. Nos 525 hectares do confinamento, tudo é integrado: das pás-carregadeiras que distribuem ingredientes da dieta dos animais até os drones que monitoram o rebanho em tempo real.
O sistema SAP integra os aplicativos que desempenham diferentes funções em uma fazenda, como análise de dados e automação, para permitir melhores tomadas de decisão. “Tudo que temos de tecnologia se aglutina em uma única plataforma”, diz.
Perrone afirma que os trabalhadores tiveram que se adaptar às tecnologias, como o uso de drones, softwares e plataformas embarcadas em máquinas. Mas muitas fazendas ainda patinam com a qualificação da mão de obra.
A falta de trabalhadores com conhecimento para colocar todas as aplicações em prática é o principal gargalo nas propriedades que o agricultor Vanderlei Secco e seus três irmãos têm em Rio Verde (GO), Ribeirão Cascalheira (MT) e Bom Jesus do Araguaia (MT).
Apesar da dificuldade, suas fazendas não passam mais um dia sem aplicação de tecnologia em cada etapa nos 15 mil hectares de soja, milho, feijão, gergelim e chia, desde simples GPS, drones de última geração e uma plataforma com todos os dados da produção.
“Fazemos o levantamento de solo e distribuição de corretivos, como calcário e potássio, em taxa variável. Se precisa de 100 quilos, o sistema despeja exatamente o necessário”, exemplifica Secco, que vê redução de custo e ganho de eficiência na ponta da operação.
Para Paulo Priori, de Jataí, a tecnologia aplicada com precisão trouxe ganhos de produção e renda, ainda que existam desafios com a mão de obra e com o clima. “Tanto eu quanto meu irmão dominamos bem essas tecnologias e repassamos esse conhecimento aos funcionários”, afirma.
Segundo o produtor goiano, sua prioridade agora é apostar em inteligência artificial. Ele já utiliza, por ora, o Xarvio, uma solução de recomendações agronômicas desenvolvida pela Basf, multinacional alemã de produtos químicos. “Fazemos todo o mapeamento das áreas e controle localizado de plantas daninhas”, conta.
Entre as empresas conectadas com o Xarvio, a Arpac Drones é uma delas. Seu CEO, Eduardo Goerl, afirma que o ponto mais importante a respeito da aplicação de tecnologias em uma fazenda é como conectá-las entre si.
Segundo Goerl, a aplicação localizada de insumos que sua empresa opera foi responsável por economizar cerca de 200 toneladas de herbicidas em cinco anos em uma parceria com a Raízen. No total, desde 2019, a empresa contabiliza cerca de 500 toneladas economizadas.