
Queijaria com produção artesanal investe no melhoramento genético de gado leiteiro Jersey Aquele gostinho de café com leite é um dos sabores sentidos por quem prova o Maná Concafé, queijo produzido no Sítio Aliança, em Santana do Itararé (PR). Premiado na França em um concurso mundial de queijos em 2021, a criação leva no preparo o café produzido no Norte Pioneiro do Paraná. “Tive a ideia depois de participar de um evento mundial de queijos em Minas Gerais, ao ver por lá tantas invenções do produto”, conta o produtor e queijeiro Leomar Melo Martins.
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Assim que produziu a primeira peça, levou alguns meses para experimentar, com receio de que o queijo não agradasse. Mas o Concafé não só agradou como conquistou prata em uma das categorias no Mondial du Fromage, concurso considerado a “Copa do Mundo dos queijos artesanais”. Foi a primeira premiação internacional do segmento para um produtor do Estado e chamou a atenção de cafeicultoras do projeto Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná, que propuseram a parceria.
O produto conquistou outras premiações, entre elas a medalha de bronze no 2º Prêmio Queijos do Paraná, realizado no último mês de maio em Curitiba (PR). O Concafé, segundo o produtor, é um queijo maturado com 30 dias, com a maciez do leite Jersey de altíssima qualidade, misturado ao café especial.
Queijaria
A trajetória da queijaria de Leomar teve início em 2017. Ele conta que começou a fazer queijos durante um período de muitas dificuldades na propriedade onde, com a esposa Marisa Martins, cria gado leiteiro da raça Jersey desde 2003. “Passamos por uma crise financeira devido a problemas causados por uma sociedade anterior. Tivemos que nos desfazer de muita coisa e pensamos em desistir da atividade”, conta o produtor.
Leomar Melo Martins e Marisa Martins começaram a queijaria em 2017
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A oportunidade de reerguer o negócio no campo surgiu justamente nesse momento, a partir de um convite para inovar e fazer queijos para uma feira de produtores. Ele conta que, em um único dia, as 70 peças de queijo produzidas foram vendidas.
O resultado foi um grande feito para quem fazia o produto apenas para consumo próprio: “nunca mais paramos e desde então procuramos estudar e aprender mais sobre queijos”. A formação acadêmica dos dois – ele especialista em agronegócio e ela farmacêutica – ajudou no processo.
De lá para cá, o casal coleciona 20 medalhas e a propriedade recebe grupos de estudantes e de interessados em conhecer melhor a produção de queijos. Além do queijo elaborado com café, o produtor criou um queijo produzido com sassafrás, uma planta aromática usada para o preparo de chás e de chimarrão, que também rendeu uma medalha no mundial de queijos na França em 2024. Uma nova criação, chamada de Maná Paraná está em desenvolvimento. “É um queijo autoral espetacular, com o nosso terroir”, revela o produtor.
Queijos do Sítio Aliança, de Santana do Itararé (PR).
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Melhoramento genético
O rebanho de 55 cabeças de gado Jersey é criado no sistema de semiconfinamento. Atualmente, são 21 vacas em lactação, com produção diária de leite de 420 litros, dos quais 130 litros/dia são destinados para a queijaria. A produção de queijo é de 400 peças de 500 gramas por semana e mais 150 peças de queijos especiais, como concafé, sassafrás, frescal e caracol.
Para manter a qualidade dos queijos, Leomar ressalta que o melhoramento genético do rebanho tem sido um diferencial. Paulo Kessler, diretor da Iamax Genética, de Carambeí (PR), explica que o teste genômico nos animais a partir dos 30 dias de vida contribui para a produtividade do leite e a rentabilidade do negócio.
O rebanho de 55 cabeças de gado Jersey do Sítio Aliança é criado no sistema de semiconfinamento
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“Por meio de técnicas avançadas de leitura de DNA, é possível identificar as características de conformação e de saúde do animal, incluindo a projeção de produção. Essas informações são fundamentais para a tomada de decisão do produtor”, ressalta.
Paulo observa que, com base nos resultados, é feito o encaminhamento de vacas com alta capacidade genética de produção para acasalamento com touros selecionados, o que aumenta as chances de rebanhos com maior potencial de lactação.
Ele também aponta entre as vantagens a melhora da qualidade do leite, com maior teor de sólidos (como gordura e proteína), o que agrega valor ao produto final. “O resultado é uma produção maior de leite por vaca com menor custo de produção, ou seja, essa é uma ferramenta essencial para a boa rentabilidade na propriedade”, acredita.
O diretor destaca que a genética para sustentabilidade do rebanho promove ainda impactos ambientais, como a redução da pegada de carbono do leite. E salienta que a seleção genômica é viável não somente para grandes propriedades, mas também para as médias e pequenas: “quanto menor o produtor, menor tem que ser a chance de erro”.