
A safra 2024/25 de algodão em Mato Grosso – maior produtor nacional da pluma – caminha para resultados históricos. Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produtividade média do ciclo foi estimada em 308,08 arrobas por hectare, crescimento de 5,61% em relação à safra passada.
Leia também
Como guerra tarifária pode mudar o consumo mundial de algodão
Preço do algodão em baixa ameaça o lucro dos produtores brasileiros
Se confirmada, será a segunda maior produtividade média da série histórica. O bom desempenho tem relação com chuvas fora de época, que prolongaram o ciclo da cultura.
“Nós tivemos, nas principais regiões produtoras, uma condição de chuva em momentos decisivos”, disse, em nota, a pesquisadora de Fitotecnia da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Daniela Dalla Costa.
Embora as chuvas atípicas, registradas em maio e junho, tenham atingido algumas lavouras que já estavam com capulhos abertos, na maior parte das regiões de produção houve aumento da produtividade. Foi o que aconteceu na área de pesquisa da Fundação MT, localizada em Sapezal.
“Especialmente, a chuva de maio causou uma maior retenção de estruturas reprodutivas, o que desencadeou um maior enchimento das maçãs e resultou em produtividades finais melhores”, disse a pesquisadora.
Daniela Dalla Costa: Chuvas favoreceram aumento da produtividade no algodão em áreas de Mato Grosso
Divulgação
No ensaio da Fundação MT, em Sapezal, foi observada uma média de 393 arrobas de algodão em caroço por hectare, chegando em algumas áreas a ter uma produtividade de 457 arrobas por hectare.
“É um dado de um ano que tivemos chuvas atípicas. Não é todo ano que isso vai acontecer. Precisamos garantir o manejo de cultura, a escolha da cultivar e época de semeadura para alcançar maiores status produtivos”, alertou a pesquisadora Daniela Dalla Costa.
A área cultivada com algodão no estado, segundo o Ime, é estimada em 1,52 milhão de hectares, aumento de 4,18% em relação à safra 2023/24.
A produção total esperada para a safra 2024/25 é de 7,04 milhões de toneladas de algodão em caroço, das quais 2,90 milhões de toneladas são de algodão em pluma, 11,38% mais que no ciclo anterior.
O produtor Alexandre Schenkel, que também é engenheiro agrônomo, destaca que, apesar dos riscos do plantio tardio, a safra superou as expectativas. “Foi um ano com produção e qualidade excelentes. O clima ajudou e tivemos HVI (índice de qualidade da fibra) com bons resultados”, explicou.
O rendimento obtido nesta temporada aliviou, em partes, o resultado financeiro dos produtores de algodão, que há tempos esperam uma reação nos preços. Recentemente, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), informou que as cotações no Brasil ficaram abaixo de R$ 3,80 a libra-peso, patamar que não era observado há mais de dois anos. Na bolsa de Nova York, a queda no acumulado do ano até agosto chega a 4,45%.
“Por conta dos custos altos e dos preços baixos, era um ano que realmente a gente precisava produzir bem. A maioria dos produtores de algodão vai conseguir ter boa produtividade. Isso traz tranquilidade para o planejamento da próxima safra”, disse o produtor rural Lucas Daltrozo, de Primavera do Leste.
Expectativas para a safra 2025/26
Com a safra quase concluída, os produtores rurais e especialistas já planejam a semeadura 2025/26. “Ainda é cedo para avaliarmos a questão de redução ou não de área, mas eu creio que ela deve ocorrer, em virtude dos custos de produção e todas as dificuldades que estamos enfrentando”, analisou Márcio Souza, coordenador de projetos e difusão de tecnologia do Instituto Mato-grossense de Algodão (IMA).
“O que o produtor vai fazer? Aquelas áreas onde não existem o potencial produtivo, essas áreas não serão plantadas porque o produtor não quer arriscar, ele quer buscar o teto máximo de produção”, acrescentou.
Para Fernando Piccinini, gerente agrícola do Grupo Bom Jesus, a identificação e segregação das áreas mais produtivas foi fundamental para entender onde investir. “Identificamos talhões acima de 400 arrobas e outros abaixo de 250”, relatou. “A ideia é justamente avaliarmos em cima dessa safra, o que faremos de diferente na próxima”, concluiu o gerente agrícola.