Segundo pesquisadores, animais têm maior tolerância às altas temperaturas Nasceram os primeiros bezerros geneticamente editados do país. O feito é resultado de uma parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Associação Brasileira de Angus, e representa um passo importante no desenvolvimento de animais com maior preparo para enfrentar o calor das regiões tropicais.
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Em nota publicada no portal da Embrapa, os pesquisadores explicam que os bezerros nasceram entre março e abril de 2025, na unidade da Embrapa em Juiz de Fora (MG). Dois dos cinco filhotes da raça Angus apresentaram a característica desejada: pelos mais curtos e lisos, o que ajuda os animais a dissipar melhor o calor corporal e, assim, se adaptarem com mais facilidade a temperaturas elevadas.
O que é edição genética?
De acordo com os pesquisadores, os animais passaram por um processo chamado edição genética, que permite modificar, com precisão, trechos específicos do DNA. Usando a técnica CRISPR/Cas9 — uma espécie de tesoura molecular —, os cientistas alteraram o gene responsável pelo tipo de pelo, sem interferir em outras características do animal.
Segundo o pesquisador da Embrapa Luiz Sérgio de Almeida Camargo, a ferramenta foi adaptada pela ciência a partir de um sistema natural encontrado em bactérias
No caso dos bezerros, o alvo foi um gene ligado ao controle da temperatura corporal, o que influencia diretamente o tipo de pelo do animal. A alteração levou à formação de pelos mais curtos, uma característica comum em raças já adaptadas ao calor, mas ausente em raças europeias de alta produtividade, como a Angus.
Diferença em relação a transgênicos
Diferentemente do que ocorre com organismos transgênicos — que recebem genes de outras espécies —, os animais editados geneticamente não têm material externo adicionado. Ou seja, são mudanças que poderiam acontecer naturalmente, mas que foram antecipadas com a ajuda da ciência. Isso torna o processo mais simples do ponto de vista regulatório e já é aceito em países como Estados Unidos e Argentina, explica a nota oficial.
Agora, os próximos passos da pesquisa incluem acompanhar o desenvolvimento dos bezerros, entender como essa característica será transmitida para os próximos descendentes e submeter os resultados à avaliação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
Além da Embrapa e da Associação Brasileira de Angus, o projeto tem como parceiros o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Casa Branca Agropastoril.