
Companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 1,09 milhão no período entre janeiro e março Finalizada a safra de verão, a Brasilagro pretende repetir a estratégia que considera ter sido um sucesso no ciclo passado: postergar parte das vendas de soja para o segundo semestre, apostando em prêmios maiores diante da menor oferta. Ainda que a empresa espere ter um ano positivo em 2025, o retrato do terceiro trimestre foi negativo.
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A companhia divulgou nesta quarta-feira (7/5) que registrou um prejuízo líquido de R$ 1,09 milhão no período entre janeiro e março — o balanço considera o ano-safra, iniciado em julho, como referência fiscal — na comparação com um resultado líquido negativo de R$ 30,1 milhões no mesmo período de 2023.
Em nove meses, a estratégia deu resultado. O lucro líquido somou R$ 76,7 milhões, em comparação a um prejuízo de R$ 6 milhões um ano antes. A receita líquida da empresa cresceu 69% na comparação entre os trimestres, para R$ 224,9 milhões. No acumulado dos nove meses, a alta foi de 57%, para R$ 870,5 milhões.
“Vendo a instabilidade de preços [de soja] em Chicago no ano passado, decidimos carregar estoques. Com isso, conseguimos bons prêmios até mesmo em meses que costumam ser negativos. Vamos fazer o mesmo e deslocar cerca de R$ 150 milhões em vendas de soja para o segundo semestre”, afirmou ao Valor André Guillaumon, CEO da companhia
Segundo ele, 67% da soja colhida pela empresa já tem preços travados. E outros 24% já foram negociados para 2025/26.
No caso do milho, a estratégia é acelerar as vendas devido à perspectiva de queda brusca no preço com a colheita de inverno. Do total colhido e a ser produzido na safrinha, a companhia já fixou 60%. O etanol tem 32% da comercialização finalizada, em um ambiente de preços historicamente elevados.
A colheita de soja da empresa em 2024/25 ficou em 216,11 mil toneladas, 14% abaixo do projetado inicialmente, devido à seca na Bahia e ao excesso de chuvas em Mato Grosso. No caso do milho verão, a produção ficou em 47,5 mil de toneladas, 14% acima do projetado. O plantio de milho safrinha foi feito dentro da janela ideal e a estimativa é que as fazendas da Brasilagro colham 73,3 mil toneladas.
Sobre o algodão, Guillaumon afirmou que a safra irrigada da Bahia tem apresentado bom resultado e a área de sequeiro sofreu um pouco pela pouca umidade. A estimativa é de uma safra total de 20,5 mil toneladas de algodão no verão (o dobro do colhido em 2023/24) e 15 mil toneladas no inverno (alta de 40%).
Estratégia na cana-de-açúcar
A Brasilagro também tem aproveitado os bons preços do açúcar e etanol e investiu nas lavouras de cana. “Temos um cenário ao contrário da maior parte do Brasil. Lavouras no Maranhão, nos garantem boa produtividade quando São Paulo seca e vice-versa”, afirmou o CEO. A empresa deve produzir 2,2 milhões de toneladas de cana, resultado de uma produtividade 4% maior que no ciclo passado.
Segundo ele, a margem da cana deu um salto de 17% no ano passado para 32% agora. A soja também está em um período de recuperação, com a margem operacional passando de 12% para 18% ou 19% no ano fiscal 2024.
Câmbio
O bom desempenho das lavouras não se traduziu em resultados financeiros positivos mais uma vez devido à forte oscilação do câmbio. Segundo o Gustavo Javier Lopez, diretor-financeiro e de RI da Brasilagro, o orçamento de 2024/25 foi construído com dólar a R$ 4,90, mas a realidade atual aponta para R$ 5,70, tendo alcançado picos de R$ 6,40 durante o ciclo.
“Esse rali cambial elevou os custos de produção, especialmente para insumos importados como cloreto e fosfatados. Ainda assim, a companhia já travou parte dos custos da próxima safra e tem 24% da soja futura vendida, aproveitando os bons momentos de Chicago e do câmbio”, afirmou.
Outros resultados
O lucro operacional da Brasilagro medido pelo Ebitda (lucro antes de impostos, taxas, depreciação e amortização) ficou negativo no terceiro trimestre em R$ 5,1 milhões, na comparação com o resultado positivo de R$ 5,6 milhões no terceiro trimestre de 2024. Em nove meses, o Ebitda passou de R$ 16,4 milhões para R$ 195,3 milhões.
Em relação à estrutura de capital, a companhia mantém perfil conservador. A dívida de curto prazo é de R$ 300 milhões, minimizando a exposição à volatilidade dos juros, que hoje chegam a 15% ao ano. “Mesmo que a alavancagem seja pequena, se os juros sobem a 15% ao ano, teremos que gastar R$ 50 milhões só para pagar juros. É muito”, reclama Javier. A empresa possui R$ 700 milhões de caixa líquido e um índice de alavancagem de 2,5x o ebitda.
A dívida de longo prazo soma R$ 400 milhões, com custos próximos a 98% do CDI, principalmente direcionada a projetos como irrigação. Além disso, a Brasilagro tem R$ 815 milhões em recebíveis relativos à venda de fazendas, praticamente sem impacto na alavancagem.