
Objeto associado atualmente ao chocolate era proveniente de aves e decorado Entre tantos símbolos ligados à Páscoa, celebração cristã que encerra a Quaresma e representa a morte e a ressurreição de Jesus Cristo neste domingo (20/4), o ovo é, sem dúvida, um dos mais marcantes. Seja pintado, decorado, de colher ou cheio de chocolates para encantar desde crianças até adultos, ele carrega significados que vão muito além da tradição atual.
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No cristianismo, por exemplo, o objeto tem o sentido de representar a origem de uma nova vida e está ligado ao renascimento.
No entanto, conforme Marcos Aurélio Fernandes, professor de filosofia da Universidade de Brasília (UnB), perdeu a visão simbólica com o tempo, sendo reduzido a um momento de prazer e consumo.
“O ovo tem uma simbologia e uma mensagem muito linda e rica, mas, infelizmente, nos nossos tempos, está ligado à economia, se perdeu aquilo que os povos tinham por muitos milênios. Somos uma civilização pobre de vida simbólica, embora ele também sirva como um gesto de amizade e de carinho entre as pessoas, mas de uma maneira muito empobrecida”.
“A páscoa cristã tem o significado de uma nova vida a partir da ressurreição de Jesus Cristo. Assim como o pintinho quebra o ovo para a vida nova, Jesus ressuscitou, ele rompeu com a morte, com o poder da morte, com o sepulcro. Isso traz uma nova vida e ele comunica para aqueles que creem, que aderem à sua mensagem e os seguem e comungam com ele da sua própria vida. É um pouco esse o sentido verdadeiro”, completa.
Os ovos e o coelho são símbolos tradicionais da Páscoa
Canva/Creative Commons
A Páscoa e o ovo
Apesar da forte relação, o objeto não está descrito na bíblia e nem teve origem no cristianismo. A disseminação iniciou pelos povos localizados no Norte da Europa, principalmente, os alemães, durante a Idade Média.
A associação começou a partir das festas para Ostara, a deusa da primavera e da fertilidade, onde os pagãos comemoravam o retorno da vida (animal e vegetal) depois de um período longo de muito frio e chuva.
“O símbolo dela era o coelho, por causa da reprodução, e o ovo, por representar a vida. Eles, hoje tão a cara da Páscoa, eram símbolos relacionados a essa deusa como foi escrito e mencionado pelos monges cristãos que tiveram contato com esses cultos mais antigos dos germânicos”, explica Aline Dias da Silveira, professora de História Antiga e Medieval da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Medievais (Meridianum).
Tradição de pintar ovos de Páscoa chegou ao Brasil com imigrantes alemães
Canva/Creative Commons
Como eram os ovos?
Se atualmente o ovo de Páscoa é relacionado ao chocolate, aqueles utilizados pelos germânicos eram provenientes de diversas aves e decorados.
“Eles eram escondidos e procurados, prática que muitas pessoas ainda fazem com as crianças. Tem registros dos próprios cristãos, que entraram em contato com os pagãos chamados de não cristãos germânicos, e que utilizavam os ovos, pintavam e decoravam. O chocolate veio dos Estados Unidos e quando chegou na Europa não era associado ao ovo”, conta a professora da UFSC.
No Brasil, a tradição de pintar ovos e relacioná-los com a Páscoa teve início após a chegada dos imigrantes alemães, por volta de 1824. E, mesmo passados 200 anos, ainda é comum encontrar casas decoradas com ovos pintados à mão.
Pomerode (SC) realiza a Osterfest, que conta com um ovo gigante e a uma árvore decorada com 115 mil casquinhas
Reprodução/@osterfest
Um exemplo acontece em Pomerode (SC), cidade conhecida como a “mais alemã do Brasil”. Neste ano, na Osterfest, ela apresentou ao público um ovo gigante de 13 toneladas em aço galvanizado e uma árvore decorada com 115 mil casquinhas.
“Na Alemanha, é costume fazer uma árvore carregada de ovos de diversas cores, onde o simbolismo do ovo se junta ao simbolismo da árvore, de ser a árvore da vida, assim como a árvore da cruz, que carregou a morte. Ela se transforma na árvore da vida e traz uma nova vida. É uma questão parecida com a árvore de Natal, que tem as bolinhas penduradas”, pontua Marcos Aurélio Fernandes.




