
O desenvolvimento de plantas tolerantes à seca é um desafio para melhoristas, seja na edição gênica (substituição de trechos de genes usando a mesma espécie), transgenia (inclusão de genes de outros seres vivos no DNA) ou seleção por fenotipagem (identificação de características físicas e funcionais do organismo). Mas a forma como as plantas interagem entre si e com o ambiente têm ajudado pesquisadores nesse trabalho.
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“As plantas não são máquinas. Elas reagem do jeito que entendem o que está acontecendo. E para piorar, elas são ‘fofoqueiras’, elas ‘conversam entre si’ sobre o que está acontecendo e respondem às informações que recebem”, disse Gustavo Maria Souza, professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel).
De acordo com o pesquisador, as plantas emitem, por meio de sinais químicos – que são liberados no solo pelas raízes ou no ar pelas folhas – informações que são captadas pelas plantas vizinhas. As vizinhas capturam esses sinais químicos e reagem para se adaptar aos sinais de mudança do ambiente. “Isso é relativamente pouco conhecido e pouco estudado, mas acontece”, afirmou Souza.
O pesquisador diz que a Ufpel começou a investigar essas ‘conversas’ entre plantas de soja e percebeu que as plantas conseguiam emitir sinais de estresse climático para plantas vizinhas sem sinais de estresse, fazendo com que elas também mudassem seu funcionamento.
Souza acrescentou que a planta responde de maneira sistêmica, com reações em cascata. “Se a planta transpira com o calor, perde água. Se fecha os estômatos, absorve menos gás carbônico, o que limita a fotossíntese, e aumenta a concentração de oxigênio nas células, causando uma série de oxidações prejudiciais”. disse.
O pesquisador observou que centenas de genes são envolvidos nessas reações. O grande número de trechos de DNA envolvidos na resposta ao estresse hídrico, e o fato de cada planta reagir de uma forma distinta dificultam para os pesquisadores a seleção de genes para o desenvolvimento de variedades tolerantes, seja por transgenia ou por edição gênica.
Alexandre Garcia, diretor de sementes e tratos culturais da Bioceres Crop Solutions, acrescentou que cada planta reage de uma maneira distinta diante do estresse climático. “Sob estresse, a planta pensa em sobreviver. Cada uma reage de uma forma. Ela pode desde reduzir a taxa de fotossíntese para preservar energia, abortar flores e reduzir a produção de grãos até direcionar sua energia para produzir mais sementes, para perpetuar a espécie”, afirmou Garcia.
Ele chamou de “plantas otimistas” aquelas que direcionam a energia para o sistema reprodutivo esperando que o período de escassez hídrico seja curto, e as “plantas pessimistas”, que reduzem a atividade vegetativa para economizar energia. A localização dos genes que fazem as plantas se comportarem de uma maneira ou de outra é importante para a edição gênica, observou Garcia.
O pesquisador da Embrapa Cerrados, Walter Ribeiro Junior, disse que mesmo em pesquisas de fenotipagem é difícil avaliar as reações das plantas, por conta da interferência de fatores externos, como solo e temperatura. Ele disse que não há uma solução única e é necessário integrar diferentes técnicas de melhoramento genético para chegar a cultivares mais tolerantes.
Os pesquisadores participaram do X Congresso Brasileiro da Soja, promovido pela Embrapa, entre 21 e 24 de julho, em Campinas (SP).
* A Embrapa forneceu a hospedagem à jornalista






