Os recursos são os mais esperados pelo setor, de acordo com fontes ouvidas pela Globo Rural O anúncio do Plano Safra 25/26, marcado para esta segunda-feira (30/6) para a agricultura familiar – e 1º de julho para a empresarial -, chega com expectativas de um orçamento que pode se aproximar dos R$ 600 bilhões e ser novamente recorde. A temporada atual (24/25) contabilizou R$ 584,5 bilhões.
Desse valor, R$ 400,5 bilhões foram à agricultura empresarial, R$ 76 bilhões do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e R$ 108 bilhões das Cédulas de Produto Rural (CPRs) direcionadas — que passou a compor o saldo final do governo.
Para o anúncio desta segunda-feira, a expectativa de que medidas estruturais, como maior exigibilidade das Letras de Crédito do Agronegócios (LCAs) e depósitos à vista, devem complementar o orçamento e viabilizar um plano “robusto”, nas palavras do governo.
Do total destinado à atual safra, até abril, foram desembolsados R$  298,6 bilhões em crédito rural — quase 80 % do total previsto, distribuídos entre custeio, comercialização e investimento.
Porém, o desembolso apresentou desaceleração nos meses iniciais, com queda de 40 % no primeiro bimestre, em parte atribuída a exigências ambientais e maior cautela por parte de produtores. A alta persistente da taxa Selic, atualmente em 14,75 %, pressionou significativamente o custo da equalização de juros, tornando o novo Plano o mais difícil dos últimos anos, conforme avaliação recente do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
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A mesma preocupação foi reforçada por técnicos que estimam gastos extras com custeio de juros em valores até 150 % superiores ao patamar anterior.
Como alternativa para viabilizar o crédito, o governo deve ampliar a exigibilidade de depósitos à vista (hoje 31,5 %) e das LCAs (de 50 % para 60 %), o que pode liberar cerca de R$ 64 bilhões adicionais sem custo direto ao Tesouro.
No âmbito da agricultura familiar, o volume também deve bater recorde, de acordo com o ministro Paulo Teixeira, com anúncio oficial às 10h de hoje. Espera-se que as condições — valores e juros — sejam divulgados não apenas para a agricultura familiar, mas também para a empresarial até o começo de julho.
Segundo o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos, em entrevista recente à Globo Rural, o foco deve continuar voltado ao apoio ao custeio — frente ao cenário de juros altos — com prioridade aos médios produtores via Pronamp e atenção especial ao Pronaf na agricultura familiar.
Enquanto isso, instituições financeiras como o Sicredi já estimam liberar R$ 22 bilhões em crédito rural no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, cerca de 20 % acima do montante da safra anterior.
Componentes do Plano Safra 25/26
Para compor o montante total do Plano Safra, o governo ainda precisa adicionar a esse somatório os recursos liberados via Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé); os valores operacionalizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), captados via Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), recursos ordinários da instituição e letras de crédito; e a previsão orçamentárias dos Fundos Constitucionais do Centro-Oeste (FCO), Norte (FNO) e Nordeste (FNE).
Os recursos próprios das instituições financeiras aplicados em linhas a juros livres também são contabilizados. Na temporada 2024/25, essa modalidade corresponde a 5% do dinheiro desembolsado até maio. A aplicação desses valores desde julho de 2024, somados à linha de recursos livres do BNDES e de captação externa, foi de R$ 17,9 bilhões.
CPRs
Quase metade do valor já computado (R$ 455,2 bilhões) deverá ser desembolsado por meio de CPRs de produtores financiadas pelos bancos a partir de recursos captados pela emissão das LCAs. Nos cálculos do Ministério da Fazenda, o direcionamento dessa fonte será de R$ 200 bilhões para aquisição desses títulos.
A Pasta já informou que vai incluir as CPRs direcionadas no cômputo total do Plano Safra. O montante não inclui títulos emitidos no mercado de capitais ou em favor de revendas ou tradings, na chamada operação de barter, contou a Globo Rural na última quinta-feira (26/6). As LCAs vão injetar às linhas de crédito rural tradicionais mais R$ 128,7 bilhões, em financiamentos a juros livres.
Três pontos e cobranças do setor
1. Juros altos
Na última sexta-feira (27/6), a equipe do governo que atua na formulação do Plano Safra 25/26 definiu que haverá alta de juros entre 1,5 ponto percentual e 2,5 pontos percentuais em praticamente todas as linhas de crédito rural para pequenos, médios e grandes produtores.
Segundo fontes do governo, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), as linhas vão aumentar no máximo 2 pontos percentuais. Já o Pronamp, destinado aos médios produtores, deve ter alta quase generalizada de 2 pontos percentuais e chegar a 10%.
A linha para agroecologia também deve ficar em 2%, em sinal de valorização da pauta ambiental e sustentável em ano de COP30 no Brasil.
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2. Tensão entre demanda e orçamento
Há forte demanda por ampliação dos recursos, inclusive por parte de bancos, cooperativas e entidades do agro. Ao mesmo tempo, o governo enfrenta limitações fiscais, o que tornou o desenho do plano especialmente tenso este ano. O volume final é muito aguardado para ver se as expectativas do setor serão ou não atendidas — especialmente nas linhas com juros controlados (Pronaf, Pronamp e investimentos).
Soma-se também a contenção de despesas do governo, que foi anunciada no dia 18 de junho, reascendeu o alerta sobre o anúncio poder deixar de fora a informação do que o Planalto irá disponibilizar na safra 2025/26. Além disso, o congelamento de R$ 455,1 milhões no orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) pode atrapalhar os planos do Ministério da Agricultura de mudar a política de gestão de risco.
3. Previsibilidade
Em 2024/25, a liberação dos recursos foi mais lenta, com atrasos na operacionalização de linhas e dúvidas regulatórias, como as relacionadas ao CAR e critérios ambientais. Para 25/26, o setor vem cobrando mais clareza, previsibilidade e agilidade desde o primeiro dia, conforme apurou a reportagem.
Como foi o anúncio do Plano Safra 24/25? Relembre
Anúncio do Plano Safra 24/25, em julho do ano passado
Divulgação/Mapa
O Plano foi lançado em 3 de julho de 2024, depois de a data oficial de 26 de junho ter sido postergada. A Globo Rural fez a cobertura em tempo real. Confira o resumo:
Para a agricultura empresarial foram R$ 508,59 bilhões, dos quais R$ 400,59 bilhões destinados para financiamentos, 10% a mais em relação à safra anterior, e R$ 108 bilhões em recursos de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), para emissões de Cédulas do Produto Rural (CPR), recursos complementares.
Dos R$ 400,59 bilhões em crédito para a agricultura empresarial, R$ 293,29 bilhões (8% a mais) foi anunciado para custeio e comercialização e R$ 107,3 bilhões (16,5% a mais) para investimentos.
Para a agricultura familiar, os recursos totalizaram R$ 76 bilhões destinados via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Na ocasião, houve redução de juros para 3% ao ano para produção de alimentos básicos e 2% para práticas sustentáveis.
Também no anúncio, o governo detalhou a alteração das regras do Pronaf. Veja aqui.
Outro anúncio foi a linha de crédito para a agricultura familiar investir em máquinas.
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