Alimento de pouca polpa é nativo da Mata Atlântica Afirmar que alguém “está na pindaíba” vai além da relação com a falta de dinheiro ou a situação de miséria. Você sabia que a expressão comum da língua portuguesa teve origem em uma fruta 100% brasileira e que não possui cultivo comercial?
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A pindaíba, de nome científico Duguetia lanceolata, é da mesma família da pinha, da graviola e da fruta-do-conde e se desenvolve em uma árvore nativa da Floresta Amazônica. No entanto, pode ser encontrada também em ambientes florestais de beira de rio em áreas do Cerrado.
Conforme Felipe Ribeiro, pesquisador da Embrapa Cerrados, duas versões tentam explicar como a fruta de casca vermelha e polpa rosada e suculenta se tornou símbolo da escassez.
A primeira relaciona a palavra tupi-guarani com o ato de pescar, onde “pinda” significa “anzol” e “iwa” representa “vara ou haste”.
“Pindaíba, neste caso, seria qualquer planta que podemos cortar para fazer uma vara de pesca. Inclusive, outras espécies da mesma família também possuem esse nome comum. Muita gente usa a expressão ‘estar na pindaíba’ se referindo às pessoas sem maiores recursos e que precisam de uma vara para pescar e se alimentar”, explica.
A outra teoria destaca que na língua kimbundu, falada por africanos escravizados trazidos para o Brasil, “mbinda” significa “miséria”, enquanto “uaiba” denomina “coisas feias”.
“Nessa, que é a versão mais aceita, as palavras formariam a expressão ‘estar na pindaíba’ ou ‘estar na completa miséria’. É a forma que se encaixa melhor no sentido atual da expressão usada no Brasil”.
No livro Espécies Arbóreas Brasileiras, a Embrapa afirma que a expressão pode ter surgido pelo fato de a polpa da fruta rústica ser muito fina e sem substância. Assim, a pessoa “estaria na pindaíba” quando, sem recursos financeiros, não tem outra alternativa a não ser consumir aquele alimento.
Para Edilson Giacon, produtor rural em Limeira (SP) e viveirista especializado em plantas raras, a história é outra e está associada ao momento da colheita.
“Quando vamos pegar a pindaíba no interior da copa da árvore, porque é ali que ela se forma, vemos frutos lindos, bem vermelhos e maduros, mas, ao cair no chão, os gomos se separam e a polpa, que é a única parte comestível, se impregna na terra, ficando imprestável para o consumo. E é daí que vem o termo ‘estar na pindaíba’. Significa a pessoa caindo, desabando, se acabando e ficando sem nada”.
Conheça mais da pindaíba
Nativa da Mata Atlântica e presente também no Cerrado, a fruta é encontrada principalmente no Sudeste, com destaque para Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e tem registros em áreas de matas ciliares no Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Paraíba e Pernambuco entre os meses de novembro a março.
“Essa espécie frutífera não pioneira e de dispersão zoocórica, ou seja, que tem as sementes espalhadas pelos animais, é muito boa para a alimentação dos pássaros nas florestas”, diz o especialista da Embrapa à Globo Rural.
Apesar do parentesco e semelhança com a fruta-do-conde, a pindaíba possui textura mais aguada e é formada por gomos grudados no centro do fruto, onde cada um deles tem uma semente. Em relação ao sabor, a principal característica é a doçura, garante Edilson Giacon.
“Cada semente é envolta de uma polpa dulcíssima e muito saborosa. Quem diz que a pindaíba não é doce é porque colheu o fruto imaturo e sem que tenha terminado a maturação”.
Assim como outras frutas, a pindaíba é consumida, geralmente, in natura, mas também serve como ingrediente para compota, suco, sorvete e licor mesmo com pouca polpa.
“Se começarmos a selecionar as matrizes para clonar e ir multiplicando, vamos melhorar no futuro a quantidade de polpa da fruta. O sabor nem precisa de mudança, pois muitos, assim como eu, consideramos a fruta um ‘manjar dos deuses’, tal como a lichia”, finaliza o viveirista.