Pesquisadores de importantes universidades e institutos dos Estados Unidos publicaram um “paper” em que mostram os efeitos da atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o aumento da produtividade agrícola do Brasil em mais de 50 anos. O texto aponta a importância do investimento público para impulsionar o crescimento do Brasil no campo, chamado por eles de “revolução agropecuária”, e escapar da “armadilha da incompatibilidade tecnológica”.
Leia também
Nestlé Brasil e Embrapa vão acelerar pesquisas para reduzir emissões em cadeias produtivas
Embrapa e cientistas buscam receitas para a agricultura na Lua e em Marte
O exemplo da Embrapa mostra o poder da transformação de um país em desenvolvimento a partir da tração dada à pesquisa pública, dizem os autores, já que os investimentos nessa área estão concentrados em países de alta renda. O destaque é para a atuação descentralizada da empresa — que tem 43 centros de pesquisa espalhados pelo país.
“Constatamos que o investimento público em P&D aumentou a produtividade agrícola nacional em 110%, com uma relação custo-benefício de 17 para 1”, afirmaram os pesquisadores Ariel Akerman, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Jacob Moscona, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Heitor S. Pellegrina, da Universidade de Notre Dame, e Karthik Sastry, da Universidade de Princeton.
Com a COP30 em Belém (PA) nos holofotes do mundo e a produção agropecuária brasileira no centro dos debates globais sobre sustentabilidade e segurança alimentar e climática, o achado dos pesquisadores tem despertado a curiosidade de outros estudiosos sobre o “case de sucesso” do Brasil.
Na última semana, Arpit Gupta, professor associado de finanças na escola de negócios da Universidade de Nova York (NYU Stern School of Business), elogiou o estudo e a relação custo-benefício da intervenção da Embrapa no aumento da produtividade agrícola brasileira. “Outro excelente artigo que demonstra o sucesso da política industrial da Embrapa, permitindo ao Brasil melhorar drasticamente a produtividade agrícola em seu território. Até hoje, a Embrapa emprega 2.300 cientistas agrícolas, número comparável ao do USDA”, publicou no X.
Os pesquisadores afirmam que a Embrapa é “talvez o exemplo mais proeminente de um programa de P&D financiado publicamente em um país em desenvolvimento”. O estudo é intitulado “P&D pública encontra desenvolvimento econômico: Embrapa e a revolução agropecuária brasileira”.
Investimento em pesquisa
A Embrapa ainda pena para equilibrar seu orçamento para custeio de novas pesquisas com dinheiro público enquanto busca outras fontes para engordar seu caixa. Nos últimos dez anos, os repasses da União para essa finalidade caíram 80%. Em 2025, o valor voltou a crescer e chegou a R$ 317,3 milhões. Parte foi cortada e cerca de R$ 31 milhões estão cancelados. Os recursos efetivamente usados estão em R$ 272,3 milhões.
“A Embrapa permanece em negociação contínua com o Ministério da Agricultura e o Ministério do Planejamento e Orçamento a fim de buscar a recomposição dos valores suspensos para que não haja impactos sobre a pesquisa agropecuária”, disse a assessoria recentemente. O projeto de lei orçamentária de 2026 prevê R$ 270 milhões para a pesquisa da Embrapa. O orçamento total passa de R$ 4 bilhões, principalmente para o pagamento de salários.
No estudo, os pesquisadores cruzaram dados de censos agropecuários do Brasil, informações sobre os cientistas da Embrapa, a localização das unidades da estatal e os números da produção municipal de milho, soja, arroz, cana, café e cacau de 1950 a 2017. O trabalho avaliou a evolução da produtividade agrícola em linha com a criação da empresa de pesquisa, em 1973, e a expansão dela pelo interior.
“A estrutura descentralizada da Embrapa, na qual os laboratórios de pesquisa estavam distribuídos por diversas zonas ecológicas em vez de concentrados em um único polo, explica mais da metade desses ganhos [de produtividade]”, diz o estudo publicado na National Bureau of Economic Research (NBER), organização privada e sem fins lucrativos dos EUA que realiza pesquisas econômicas de ponta.
Na avaliação dos pesquisadores, a Embrapa “redirecionou a pesquisa para culturas básicas de importância local e para as condições ecológicas específicas do Brasil, em parte, sustentando pesquisas produtivas mesmo em regiões remotas e com escassez de recursos para pesquisa”. O estudo aponta que a Embrapa é capaz de alterar o foco, a trajetória e a produtividade do desenvolvimento científico e tecnológico no setor agrícola.
Segundo eles, a Embrapa afetou positivamente a produção agrícola, a partir da implantação das unidades descentralizadas de pesquisa e a geração de novas cultivares. O alcance geográfico da empresa desempenha um papel importante para os resultados atuais. Os pesquisadores dos EUA estimam que se a estatal operasse a partir de uma única sede central em vez dos 43 centros de pesquisas dispersos pelo país, o ganho na produtividade teria sido de 47% e não de 110%.
“Análises contrafactuais sugerem que o alcance geográfico dos esforços de pesquisa da Embrapa e o desenvolvimento de tecnologia apropriada para as variadas condições ecológicas do Brasil foram um mecanismo importante. Em conjunto, esses resultados sugerem que o investimento em P&D pública pode ser um componente importante da política de desenvolvimento e um catalisador para o crescimento da produtividade”, conclui o estudo.