A restauração da vegetação nativa pode aumentar a produtividade agrícola sem a necessidade de expansão da área cultivada. Foi o que concluiu um estudo inovador que quantificou o impacto econômico da polinização na agricultura paulista.
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Realizado por meio de uma parceria entre a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), o trabalho demonstrou que a recuperação estratégica de vegetação nativa pode elevar o PIB agropecuário do estado em até R$ 4,2 bilhões por ano e conquistou o 1º lugar no Prêmio MapBiomas 2025.
A premiação é uma das mais importantes do País e reconhece iniciativas que utilizam os dados do MapBiomas para soluções inovadoras em conservação, manejo sustentável e combate às mudanças climáticas. Mais de 180 projetos foram selecionados na edição 2025.
Fluxo de polinização
Utilizando imagens de satélite e análise pixel a pixel, os pesquisadores Rafael Chaves, da Semil, e Eduardo Moreira, da USP, mapearam áreas agrícolas e fragmentos de vegetação nativa, identificando oportunidades para ampliar a polinização, processo essencial para a formação de frutos e sementes em lavouras como soja, laranja e café.
O estudo avaliou o fluxo de polinizadores entre as vegetações nativas, que ofertam polinização, e as áreas agrícolas, que demandam polinização, o que possibilitou a avaliação do efeito que a restauração ecológica ao redor das lavouras tem no aumento do fluxo.
Tal abordagem permitiu identificar áreas estratégicas, como margens de rios, fragmentos e bordas de propriedades, que podem ser recuperadas para ampliar a oferta de polinizadores e, consequentemente, beneficiar a produtividade das lavouras.
Impacto econômico
Segundo o estudo, que contou ainda com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e foi publicado digitalmente como nota técnico-Científica da Série Biota Síntese (Potencial do Serviço Ecossistêmico de Polinização no Estado de São Paulo), a restauração da vegetação nativa em áreas agrícolas poderia aumentar em até R$ 4,2 bilhões anuais o Produto Interno Bruto (PIB) paulista.
A presença de matas, cerrados e campos próximos aos cultivos amplia a presença e diversidade de polinizadores, sobretudo abelhas, aumentando a quantidade dos frutos e grãos cultivados, mas também seu o tamanho e qualidade.
Apenas com as lavouras de soja, laranja e café, os ganhos seriam de R$ 3 bilhões. Outros cultivos permanentes, como goiaba, abacate e manga, poderiam gerar mais R$ 280 milhões, enquanto lavouras temporárias, a exemplo do tomate, amendoim e feijão, adicionariam R$ 820 milhões à economia.
“Esses números demonstram como as soluções baseadas na natureza podem beneficiar simultaneamente a agricultura, a renda dos produtores e a proteção da biodiversidade”, diz Rafael Chaves, coautor do estudo, que também é vice-diretor do Biota Síntese pela Semil.
Segundo Jônatas Trindade, subsecretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo, o prêmio reconhece o trabalho desenvolvido pela secretaria e fornece subsídios para a formulação de novas políticas.