Pele de tilápia poderá ser produzida em larga escala para tratamentos médicos no SUS

A pele de tilápia, que pode ser usada em medicina restaurativa, especialmente no tratamento de queimaduras e outras lesões, passará a ser produzida em larga escala para uso em tratamentos no Sistema Único de Saúde (SUS). O avanço foi possível após a transferência da tecnologia desenvolvida na Universidade Federal do Ceará (UFC).

A inovação, que também poderá ser aplicada na rede privada, será aplicada a partir de edital pública, que habilitou uma empresa para o licenciamento da produção do curativo. Professor de farmacologia da UFC, Carlos Paier, celebrou a conquista: “Concluímos o processo de transferência, que foi publicado no Diário Oficial da União, e essa empresa que ganhou agora poderá realizar o nosso sonho, que é submeter esse produto à autorização da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e, uma vez tendo a autorização, fabricar e colocar no mercado.”

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O estudo sobre a pele de tilápia para tratar lesões em humanos e animais começou há 10 anos, envolvendo 380 pesquisadores de 9 países. Segundo Odorico Moraes, diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, a pesquisa foi multidisciplinar.

“A gente precisava de pesquisadores da histologia, pesquisadores da área de dor, da inflamação e outras coisas mais que estivessem agregado à pesquisa da tilápia. Fazia a queimadura no animal e testava a pele da tilápia. Isso se mostrou que, primeiro, a cicatrização era. Mais rápida, tinha menos processo inflamatório, tá certo? E que não tinha nenhum efeito colateral para os animais, né? Então isso aí já deu uma ênfase maior para que a gente pudesse passar então para os seres humanos.” Odorico Moraes, diretor do NPDM da UFC

Com o avanço das pesquisas, a pele de tilápia ganhou novas aplicações além das queimaduras. “Em cirurgias ginecológicas, em uma síndrome que nós chamamos de Síndrome de May-Rock-Tansk, onde as mulheres nascem sem o canal vaginal, a pele da tilápia é utilizada na cirurgia de construção desse canal vaginal”, detalha o professor Felipe Rocha, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

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“Nós também utilizamos a pele da tilápia em crianças que nascem com Síndrome de Apert, nascem com má formação e com os dedos das mãos unidos, que nós chamamos de Cidactilia, e a pele da tilápia é usada nessa cirurgia de separação. Nós também utilizamos a pele de tilápia em cirurgias de redesignação sexual em mulheres trans para a construção do canal vaginal e também utilizamos na veterinária”, continua ele.

Após as etapas de instalação da fábrica e registro na Anvisa, a expectativa é que a pele de tilápia esteja disponível para comercialização no mercado entre dois e três anos. Para Carlos Paier, o impacto será positivo também para a gestão dos recursos públicos, gerando mais economia para o sistema de saúde. “Se você troca menos curativos e exige menos gente trabalhando, você economiza. E é tudo que nós precisamos do sistema de saúde público hoje.”

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