
O plantio de alface no Brasil pode se tornar um grande desafio nas próximas décadas devido às projeções climáticas, segundo pesquisadores da Embrapa. Mapas de risco climático lançados pela entidade durante a COP30, em Belém, demonstram a vulnerabilidade da cultura em relação à temperatura máxima projetada para períodos de curto, médio e longo prazo.
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A pesquisa indica, com auxílio de inteligência artificial, níveis de risco decorrentes da elevação das temperaturas em diferentes regiões do Brasil. De acordo com o estudo, o território nacional deve apresentar risco alto ou muito alto para o cultivo da hortaliça até o fim do século.
A pesquisa alerta para ações urgentes de mitigação dos efeitos climáticos adversos, como o superaquecimento. Entre 11 cultivares de alface testadas em condições simuladas, apenas três suportaram o cultivo no cenário de longo prazo, em que são esperadas temperaturas de até 45,6 ºC nas regiões norte, nordeste e centro-oeste.
Os testes simulam o sistema de produção convencional, em ambiente aberto e irrigado, onde ondas de calor incidem de forma gradativa, com projeções estimadas até o fim do século. A primeira projeção tem prazo até 2040; a segunda abrange o período de 2041 a 2070; e, por fim, o longo prazo engloba 2071 a 2100.
Do nível moderado ao alto risco, o estudo propõe classificações de vulnerabilidade com base no cultivo da alface, hortaliça de origem mediterrânea que depende de temperaturas entre 15 e 25 ºC. Em sua maioria, as cultivares apresentaram desordens morfológicas ou fisiológicas sob altas temperaturas.
Os mapas são projetados em dois cenários climáticos: positivo e negativo. “Consideramos dois cenários de mudanças climáticas. Um cenário de emissões moderadas, e um cenário pessimista, em que continuamos a emitir gás de efeito estufa de forma contínua”, explica Carlos Eduardo Pacheco, pesquisador da Embrapa Hortaliças, à Globo Rural.
O pesquisador ressalta que pesquisas de melhoramento genético de alface e sistemas de produção são recorrentes desde 1980 por conta das ameaças climáticas, e aponta as tendências projetadas. “Infelizmente, estamos caminhando para um cenário preocupante, não há controle das emissões de gás de efeito estufa como deveria. Então, muitos pesquisadores acreditam que chegaremos ao cenário mais pessimista”, afirma.
O pesquisador acredita que sistemas de tipo protegido e programas de melhoramento genético podem amenizar impactos ao assegurar o cultivo e dinamizar a produção. “Precisamos trabalhar no corte do ciclo produtivo, porque uma questão importante nas mudanças climáticas é a imprevisibilidade. Quanto mais rápido se produz, menor a chance de um evento extremo impactar uma cadeia, como a do alface”, explica.
Território sob risco
As conclusões da pesquisa indicam que, mesmo no cenário otimista, até o fim do século, 97% do território nacional ainda estará sob risco climático alto ou muito alto para o cultivo de alface. As condições previstas de calor extremo podem prejudicar o cultivo, provocando queima de folhas, morte de plantas, além de perdas de produtividade e qualidade da hortaliça, que necessita de temperaturas amenas.
De acordo com o pesquisador, os mapas ainda podem direcionar futuras pesquisas e políticas públicas para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas, além de servir como auxílio ao produtor rural, à definição de riscos e à avaliação de crédito agrícola por instituições financeiras.
Lançados na AgriZone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa, durante a COP30, os mapas são baseados em projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e em modelos utilizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
*Sob supervisão de Danton Boatini Júnior






