
Em 2023, o pecuarista mineiro Elias Joaquim Ribeiro Filho decidiu investir na genética para aumentar a qualidade e a produção de leite de suas vacas no sítio de 17 hectares em Bertópolis (MG). Ele adotou a reprodução Fertilização In Vitro (FIV), com apoio do programa Sebraetec FIV. Nesta primeira tentativa, obteve uma taxa de prenhez de 50%. No ano passado, a transferência de embriões foi ainda mais satisfatória.
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“Consegui a proeza de 100% no índice de prenhez das vacas. Dez embriões geraram 10 crias, aliás 11, porque nasceram gêmeas que estão agora com 4 meses”, conta Elias, que pagou R$ 185,50 por embrião e teve o restante do custo, 70%, subsidiado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-Minas).
O objetivo do produtor, que atualmente tem 17 vacas em lactação rendendo cerca de 70 litros de leite por dia, é em dois ou três anos, aumentar a produção para 300 litros/dia. Todo leite do sítio vai para a produção de queijos, atividade que Elias iniciou há um ano e meio em busca de agregar valor ao seu trabalho.
O pecuarista contou à Globo Rural que já fez mais de 15 cursos no Senar e em outros órgãos para desenvolver o negócio de leite que herdou do pai há 10 anos e o programa Sebraetec tem sido fundamental para a melhoria do seu rebanho. Em setembro, ele implantou mais sete embriões.
Elias afirma que seus vizinhos produtores de leite ficaram desconfiados no início, pois achavam que essa técnica de melhoramento genético só funcionaria em grandes fazendas, mas depois também adotaram a tecnologia. “É muito gratificante o que estamos vivendo. Nossa região sempre foi pobre e, agora, com os conhecimentos trazidos pelo Sebrae, nossa realidade mudou.”
A técnica permite acelerar a multiplicação de matrizes de alto valor genético, promovendo o nascimento de animais com maior potencial produtivo e selecionando características desejáveis de acordo com o objetivo de produção de cada propriedade.
Para avaliar a eficácia do trabalho, o programa realiza o diagnóstico de gestação 30 dias após o implante do embrião, confirmando se as receptoras ficaram prenhas, e realiza o diagnóstico de sexagem aos 60 dias.
O pecuarista atribui o sucesso da técnica de melhoramento genético ao cuidado que emprega no manejo de cada vaca, o que combate o estresse animal, e também às medidas adequadas adotadas no sítio para suplementação da alimentação e fornecimento de água.
A técnica permite acelerar a multiplicação de matrizes de alto valor genético
Divulgação
Produtores atendidos
Elias é um dos 150 pecuaristas do Vale do Mucuri, na região leste de Minas Gerais, beneficiados pelo programa do Sebrae presente em todo o Estado que visa o melhoramento genético dos rebanhos leiteiros das pequenas propriedades.
Segundo o órgão, produtores da região que adotaram o programa desde o início, há cinco anos, registraram no período um salto de até 700% na produção leiteira, que passou de 70 litros para até 500 litros por dia.
Segundo Gabrielly Dayrell, analista responsável pela aplicação do programa na região, os números alcançados pelos produtores locais são inéditos, graças à atuação conjunta das instituições, que conhecem a realidade local, e aos próprios produtores, que se empenharam em todas as etapas do processo, desde a alimentação dos animais até o manejo correto.
Luiz Alberto Gonçalves da Cruz, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Machacalis, município que fica a 19 km de Bertópolis, diz que o acesso ao programa foi uma “tábua de salvação” para os produtores de leite do Vale do Mucuri que tinham enfrentado dois períodos críticos.
O primeiro foi em 2016, quando animais de descarte do Sul foram comercializados indevidamente na região e espalharam uma doença chamada tripanossomose que provocou perdas no rebanho de até 70%. Transmitida pelo parasita Trypanosoma vivax, a doença causa perda de peso dos animais, redução da produção de leite e carne, infertilidade e até mesmo a morte. Quatro anos depois, foi a pandemia que prejudicou o desenvolvimento da atividade na região.
Segundo o sindicalista, os resultados do melhoramento genético vieram já no primeiro ano, quando o Vale do Mucuri obteve o melhor resultado do Sebraetec FIV em Minas, com uma taxa de prenhez de 76%. Em seguida, o sucesso foi repetido com outros dois recordes: 84% em 2023, e 84,7% no ciclo 2024/2025, enquanto a média de prenhez no Brasil varia entre 33% e 40%.
Cruz afirma que uma das propriedades atendidas pelo programa em Machacalis está caminhando para obter uma produção de leite de 1.000 litros diários e outro ganho do programa foi o aumento do valor de comercialização dos animais, que passou de R$ 3,5 mil para R$ 12 mil por cabeça.
“O Sebrae enxergou essa possibilidade para nós e acabou contribuindo, inclusive, para a sucessão familiar rural. Passamos a ter renda suficiente para pai e filho trabalharem juntos em uma propriedade”, disse em nota.
Seleção rigorosa
Francisco Augusto Lara de Souza, analista do Sebrae Minas, explica que os animais utilizados no Sebraetec FIV têm alto valor genético, resultado de um processo de seleção rigoroso de matrizes com Registro Genealógico Definitivo, lactação oficial comprovada por associações de criadores e Relatório do Exame de Vínculo Genético de Bovinos por DNA. Já os touros empregados no programa são provados e genômicos.
Segundo o analista, o girolando meio-sangue, produto do cruzamento entre as raças gir e holandesa, é o mais procurado pelos produtores para o FIV por combinar a rusticidade do gir com o alto potencial genético para a produção de leite do gado holandês.
“O melhoramento genético impulsionado pelo Sebraetec FIV aumenta a produtividade e a competitividade no campo, representando uma inovação concreta e acessível, capaz de elevar de forma consistente os indicadores zootécnicos, de qualidade, reprodutivos e econômicos da pecuária de leite do estado de Minas Gerais.”
Além dos sindicatos rurais, o trabalho com os pequenos e médios pecuaristas do Vale do Mucuri é realizado em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e cooperativas de crédito.