
O agronegócio brasileiro precisa mostrar como a tecnologia aumentou a produtividade no campo e o que o setor tem feito para produzir alimentos e energia com preocupação ambiental e social, sem abrir mão de bons resultados econômicos, e também precisa reconhecer falhas e eliminá-las. Para representantes do agro nacional que participaram na quarta-feira (18/6) da quarta edição do Fórum Futuro do Agro, em São Paulo, esses são os pontos que o setor precisa levar para enriquecer os debates da COP30, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em novembro, em Belém.
A presença do agro brasileiro no maior evento global sobre mudanças climáticas foi tema central do fórum, uma realização da revista “Globo Rural”, dos jornais Valor e “O Globo” e da Rádio CBN, em parceria com o Imaflora. Produtores rurais, pesquisadores, empresários, executivos e representantes do setor público e de entidades ligadas ao segmento participaram das discussões.
No Fórum, os especialistas reforçaram a mensagem de que a COP30 será também uma importante vitrine para o agronegócio brasileiro. Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia, disse que o setor precisa unificar o discurso e “falar a língua” dos clientes. Ele defendeu o uso da “inteligência de mercado” para promover a agricultura tropical, da qual o Brasil é protagonista.
“O agro tem que falar inglês, alemão, mandarim”, opinou. “Lamento que, depois que o Brasil foi anunciado como sede (da COP30), não tenhamos estruturado o maior diálogo da história. Mesmo sem consenso, deveríamos ter algo a entregar”.
Veterano em edições da COP, Eduardo Cerri, professor titular do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), reitera que a conferência de Belém poderá servir como caixa de ressonância das boas práticas da agropecuária brasileira. “Temos que mostrar o que temos de bom. No exterior, não sabem, por concorrência ou ignorância mesmo. E muitas vezes quem mais atrapalha nosso setor é o próprio setor”, afirmou. “Há uma oportunidade real de mostrarmos que soluções baseadas na natureza não só são possíveis como o Brasil já as adota com sucesso”.
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e enviado do agro para a COP30, acrescentou: “Queremos sugerir que o planeta faça uma agricultura tropical com consenso, destacando nossa matriz energética complementar e demandando financiamento climático para o país”.
Mas não há agricultura sustentável sem rentabilidade para o produtor, pontuou Matheus Vidal, cafeicultor em Minas Gerais. Ele concorda que só tem sentido produzir se a atividade for ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável. A questão, argumentou, é que esses esforços ainda não são sinônimo de remuneração adicional.
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A manifestação de Vidal resumiu uma queixa frequente dos produtores rurais: a de que a conta — e os riscos — da transição para modelos mais sustentáveis de produção agropecuária tem ficado, em grande medida, com os produtores. Segundo essas avaliações, a imensa maioria dos produtores já adota boas práticas no campo, que reduzem a pegada de carbono da atividade rural, e gostaria de ampliar esses esforços.
No entanto, ainda segundo esses argumentos, se apenas os produtores tiverem que bancar a mudança dos modelos de produção (com ações como recuperação de pastagens degradadas ou a adoção de sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, por exemplo), os esforços não terão vida longa. Isso porque, muitas vezes, a transição para os novos modelos vai demorar alguns anos até começar a dar retorno financeiro — e os produtores não têm sobra de caixa para trabalhar com prejuízo em muitas safras consecutivas.
“Estamos trabalhando com fertilizantes que têm pegada de carbono menor e buscamos mercados dispostos a pagar mais por isso, mas não vemos retorno financeiro direto. A aposta é de longo prazo”, disse Vidal. Para atestar que o agro brasileiro já adota práticas sustentáveis, ele defende que os agricultores abram as portas de suas fazendas a toda a sociedade.