
A Dra. Celeste Ibarra-Herrera, da universidade de Monterrey, avalia que o uso de insetos na alimentação humana é mais sustentável e garante segurança alimentar mundial Preocupada com o acelerado aumento populacional, projetado para ultrapassar 9,7 bilhões de habitantes até 2050, e com a consequente demanda por alimentos, a mexicana Dra. Celeste Ibarra-Herrera, lidera um projeto inovador para o desenvolvimento de pão fortificado com farinha de insetos, principalmente do gafanhoto-milpa (Sphenarium purpurascens) e do Tenebrio Molitor.
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A pesquisadora é colaboradora do projeto “Segurança Alimentar e Nutricional”, que faz parte da Iniciativa de Pesquisa em Saúde da Faculdade de Engenharia e Ciências do Tecnológico de Monterrey, no México.
O método de fermentação da farinha de insetos desenvolvido por ela está em processo de patente. Ele incorpora o uso de um fungo comestível, que não só melhora a textura e o sabor, como também aumenta o valor nutricional do produto final.
No México, o uso de insetos na alimentação é bem aceito, diferentemente do que ocorre no Brasil. Com a criação de novas receitas de pão, a equipe de pesquisa busca oferecer uma solução nutritiva, com alto valor proteico, sustentável e sensorialmente atraente para combater a crise alimentar.
A crescente pressão sobre os sistemas alimentares exige alternativas eficientes e sustentáveis. Nesse contexto, os insetos comestíveis surgem como uma opção atraente devido ao seu alto conteúdo nutricional e menor impacto ambiental”,
Sustentabilidade
A produção de insetos requer menos consumo de água, terra e ração. “Enquanto a produção de um quilo de carne bovina requer aproximadamente oito quilos de ração, os insetos alcançam a mesma produção com apenas dois quilos, liberando recursos valiosos como terra e água”, observou a Dra. Ibarra-Herrera.
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Do ponto de vista ambiental, o impacto positivo é significativo. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que a produção de insetos comestíveis como gafanhotos gera entre 50% e 90% menos emissões de gases de efeito estufa, requer até 80% menos água e 90% menos terra por quilo de proteína em comparação com a pecuária tradicional.
Além disso, a equipe de pesquisa destaca o perfil nutricional de insetos como gafanhotos, ricos em proteínas de alta qualidade, ácidos graxos essenciais, minerais essenciais como ferro e zinco, fibra alimentar e compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
Insetos usados na alimentação humana são comuns no México
Silvia Costanti/Valor
“Esta inovação representa uma oportunidade concreta para as pessoas melhorarem sua dieta diária de forma simples e acessível. Estamos trabalhando para que, com o consumo deste pão, as pessoas tenham uma fonte de proteína de alta qualidade em comparação com o pão tradicional, além de aumentar significativamente a ingestão de ferro, zinco, cálcio, selênio e fibra alimentar, nutrientes essenciais cuja deficiência continua afetando milhões de pessoas no México e no mundo”, enfatizou a pesquisadora.
Entomofagia
Embora a entomofagia, ou a ingestão de insetos por humanos, seja uma prática cultural profundamente enraizada em várias regiões do mundo, incluindo o México, onde gafanhotos, percevejos e larvas de mariposas e de formigas são tradicionalmente consumidos, seu consumo diário ainda é limitado a certas áreas. O México abriga mais de 500 das mais de 1.600 espécies de insetos comestíveis registradas em todo o mundo.
Esta pesquisa busca ampliar seu consumo por meio de alimentos do dia a dia, como o pão fatiado. Testes sensoriais realizados no estado de Puebla, onde o consumo de gafanhotos tem uma tradição cultural profundamente enraizada, apresentaram resultados positivos. O pão fatiado fortificado com farinha de gafanhoto apresentou alta aceitação em sabor, textura e aparência entre os participantes.
As versões enriquecidas com farinha de gafanhoto foram preferidas às feitas com outros insetos, o que ressalta o potencial desse ingrediente específico para integração em pães. O público-alvo inicial consiste em indivíduos que buscam aumentar a ingestão de proteínas. Estudos mais amplos são necessários para avaliar a aceitação em diversas regiões e expandir o mercado.
A pesquisadora explicou que a fermentação dos insetos melhora significativamente a textura e a digestibilidade do pão, com o gafanhoto sendo particularmente aceito em termos de sabor após esse processo. A fermentação também aumenta o teor de proteínas e fibras no produto final, melhorando ainda mais seu perfil nutricional.
Pão feito com farinha de insetos, na universidade de Monterrey, México
Divulgação






