
O agronegócio brasileiro deve representar 29,4% do PIB brasileiro em 2025, segundo projeções da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso significa que quase um terço de toda a riqueza gerada no país nasce, direta ou indiretamente, do campo. Mais do que um dado econômico, esse número reforça um movimento que já é visível nas ruas, nos palcos, nas passarelas e nas redes sociais: o agro nunca foi tão pop.
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O setor não apenas movimenta a economia, mas dita também comportamentos, estéticas e discursos em várias camadas da sociedade. Os rodeios, por exemplo, que por décadas foram eventos regionais, limitados às festas tradicionais do interior, hoje se transformaram em grandes festivais, com camarotes premium, ativações de marcas de luxo e transmissões ao vivo com milhões de visualizações.
A Festa do Peão de Barretos é um exemplo disso: em sua 70ª edição, entre os dias 21 a 31 de agosto de 2025, o evento atraiu quase 1 milhão de pessoas e apresentou mais de 130 shows musicais, com investimento de R$ 20 milhões em estrutura e produção. O Goiânia Rodeo Festival, o Ribeirão Rodeo Music, o Caldas Country e o Divinaexpo também cresceram em estrutura no último ano.
Para Gui Marconi, sócio e diretor da Diverti, empresa responsável pelo Circuito Sertanejo, é interessante ver a mudança no perfil do público. “A gente percebe que o rodeio entrou de vez no calendário de festas. Jaguariúna, que sempre teve Campinas como principal público, hoje tem São Paulo como o maior público. Rio de Janeiro vem logo em terceiro. No ano passado, o Caldas Country vendeu ingressos para todos os Estados do país. Ou seja, não é só mais regional, as pessoas se deslocam para acompanhar estes eventos”.
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Na visão do empresário, a música foi uma das principais responsáveis por este processo, não por acaso o sertanejo continua sendo o gênero mais ouvido do país, dominando as plataformas de streaming e as rádios. Ele destaca o surgimento e consolidação do chamado agronejo, uma fusão do sertanejo com ritmos urbanos como o funk, o pop e o trap, em letras que exaltam o campo, a liberdade da vida rural, a pecuária, as caminhonetes, mas também o consumo, a ostentação e o hedonismo.
Artistas como Ana Castela, Luan Pereira, Us Agroboy, Leo & Raphael e Zé Felipe são exemplos dessa geração que canta sobre o campo com estética jovem, linguagem de TikTok e uma visão mais aspiracional do agro, não como trabalho pesado, mas como símbolo de status, identidade e pertencimento.
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“A música cumpre um papel muito importante de conectar as pessoas. Ela apresenta o lifestyle, a cultura e a realidade do campo para quem não conhece. É uma ponte de conexão muito forte”, diz Marconi.
Ana Castela foi embaixadora da Festa do Peão de Barretos de 2025
Alisson Demetrio/Divulgação
Mas não para por aí. A transformação cultural impulsionada pelo agro também chegou à moda. o visual cowboy se espalhou pelas ruas e redes, embalado por momentos como a era Cowboy Carter, da cantora Beyoncé, e o debut de Post Malone como designer em Paris, onde ele levou um cavalo real para a passarela e desfilou jeans com estrelas, camurça e botas texanas.
O estilo country voltou a ocupar espaço de destaque nas passarelas, mas longe de qualquer leitura caricata ou óbvia. A Louis Vuitton, com Pharrell Williams à frente da direção criativa masculina, levou o Velho Oeste para o desfile de outono/inverno 24/25, misturando chapéus de couro, camisas bordadas e franjas com alfaiataria de luxo.
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Já Ralph Lauren seguiu fiel ao seu DNA, apresentando a coleção primavera/verão 2025 em uma fazenda em Bridgehampton, nos Estados Unidos, com vestidos fluidos, ponchos, cintos concho e ar bucólico.
No Brasil, a Riachuelo identificou um crescimento consistente no interesse pela estética Western em 2023. Foi neste período que a empresa passou a incorporá-la no desenvolvimento das coleções.
Constanza Pedrassani, diretora de estilo da marca, diz que a ascensão contínua do sertanejo e a força dos festivais fizeram com que muitos itens que representam essa estética ganhassem um destaque, como o jeans, o chapéu, as botas, cintos com fivelas e o couro.
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Riachuelo Divulgação
“O estilo sertanejo é uma forte expressão da cultura brasileira, que valoriza e celebra as tradições regionais. Na moda, essas referências são ressignificadas de forma contemporânea, dialogando também com o imaginário, com as expressões culturais. É muito importante que essa valorização aconteça com respeito e autenticidade, reconhecendo as raízes socioculturais”, defende Pedrassani.
A tendência foi tão forte que serviu inspirou até mesmo a indústria da beleza. Em junho, a marca Niina Make Up, da empresária Shirley Costa, lançou uma coleção intitulada Western, com contornos, blushes multifuncionais e glosses.
“Em janeiro, quando eu fui para o Colorado, eu percebi que as pessoas viviam a rotina da fazenda no dia a dia, o lifestyle do campo. Foi muito interessante, porque no interior do Brasil isso é comum, mas na cidade grande, não. A inspiração veio das cores que temos na fazenda, da terra, do pôr do sol, dos alimentos, do que a gente vê e vive quando está na roça”, afirma Costa.
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Niina Makeup/ Divulgação
A coleção ainda faz referência a elementos culturais importantes para o estilo de vida interiorano. Com bom humor, a marca trouxe nomes como cowgirl, céu estrelado, cereja do campo, musa do rodeio e gibão de couro para os produtos da linha. Na embalagem, um chapéu estampado e fontes que remetem ao Velho Oeste também reforçam a estética.