
O mercado de sementes vive uma nova onda de transgenia no Brasil e no mundo. Enquanto nos anos 2000 as empresas de desenvolvimento de sementes se concentraram em criar variedades transgênicas com resistência a herbicidas e insetos, agora elas se voltam para criar cultivares geneticamente modificadas com resistência a nematoides e doenças como a ferrugem asiática da soja.
Leia também
Escassez de profissionais do setor de sementes preocupa especialistas
Clima prejudica qualidade das sementes de soja no Brasil
As empresas também começam a testar soja e milho com resistência a pragas usando genes de outras bactérias, além da Bacillus thuringiensis (Bt), e até mesmo genes de plantas.
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) tem três pedidos de liberação de transgênicos para serem analisados com essas características, segundo apurou o Valor.
A Basf conseguiu com a CTNBio aprovação de biossegurança para testar no Brasil uma tecnologia de soja com resistência a nematoide e a um herbicida e uma outra com resistência a nematoides e tolerância a três tipos de herbicidas.
Mariana Stutz, fitopatologista e nematologista da Basf Soluções para Agricultura, diz que a tecnologia está em fase de experimentos de campo no Brasil. “A gente espera que nos próximos anos, ainda nesta década, a gente consiga lançar esses materiais”, diz. Segundo ela, o transgênico também usa uma proteína da bactéria Bt para o controle de nematoide de cisto da soja e nematoide das lesões.
O gerente de portfólio sementes de soja da Basf Soluções para Agricultura no Brasil, Fábio Faria, afirma que a companhia já negocia com outras empresas para licenciar o uso da tecnologia em sementes de soja. “É a primeira biotecnologia do tipo, a nossa intenção é que o agricultor tenha o melhor acesso possível a ela”, diz.
Saiba-mais taboola
Ele acrescenta que a tecnologia será inserida inicialmente apenas em sementes de soja. Mas, como os nematoides também atacam outras culturas, como milho e algodão, o controle das pragas com a soja transgênica também deverá favorecer as outras culturas usadas na rotação com a oleaginosa.
Para a safra 2026/27, a Basf colocará no mercado brasileiro oito lançamentos de tecnologia de soja transgênica, com foco em produtividade e controle de pragas.
No Brasil, Corteva, Basf, Bayer e Syngenta já fazem testes de campo com sementes de soja e milho com resistência a doenças, mas ainda não há liberação comercial para uso no Brasil. Procuradas, a Corteva e a Syngenta não quiseram comentar o assunto.
Geraldo Berger, vice-presidente de assuntos regulatórios para América Latina da Bayer, afirma que a Bayer desenvolve e pretende lançar nos próximos anos no Brasil a sua quarta geração de soja transgênica, com resistência a novas pragas que as gerações anteriores não possuem, como as do chamado complexo espelhado (lagarta-da-soja, falsa medideira, e outras).
“As pragas no Brasil têm um número maior, então a pressão por resistência a pragas é muito grande. Essa quarta geração aumenta o espectro de controle, com pragas adicionais, e a tolerância a cinco tipos de herbicida”, revela Berger.
A multinacional também já testou algumas sementes no Brasil desenvolvidas com edição gênica, segundo Berger, mas elas devem levar mais tempo para chegar à fase comercial. “O foco é sempre maximizar a produtividade da planta”, diz, sem dar detalhes sobre as características das novas sementes em estudo.
Othon Abrahão, gerente geral da chinesa DBN no Brasil, diz que a companhia já testa variedades de soja transgênica resistente a doenças e nematoides na China e planeja trazer as variedades para o Brasil, onde trabalha em parceria com a GDM .
Receio
Na década de 1990 e início dos anos 2000 havia muito receio da sociedade em relação aos supostos riscos da transgenia à saúde e ao ambiente, observa Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja. Essas polêmicas em torno do tema limitaram o avanço das pesquisas nas commodities, e as empresas ficaram mais concentradas em desenvolver sementes resistentes a insetos e herbicidas, segundo ele.
“A resistência a insetos reduziu a aplicação de inseticidas em culturas como soja, milho, cana e eucalipto. Por outro lado, os custos com tratamento de doenças aumentaram. Hoje, na cultura da soja, se gasta mais de US$ 1 bilhão por ano com fungicidas para controlar doenças, principalmente a ferrugem asiática”, diz Nepomuceno. Só na soja já foram identificados em torno de 40 tipos de doenças.
A Embrapa forneceu a hospedagem à jornalista