Ao mostrar casos de sucesso da adoção do plantio direto nas lavouras brasileiras, o agrônomo holandês Hans Peeten conquistou aliados. Mas o grande reforço chegou em 1979, quando Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, conhecido como Nonô, viajaram aos Estados Unidos e retornaram ao Brasil convictos de que era preciso convencer mais gente a aderir ao sistema. Dijkstra, Nonô e o agricultor Herbert Bartz fundaram o Clube da Minhoca, uma associação informal que passaria a fazer o trabalho educativo.
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“Com um projetor de slides e um carrossel de fotos, viajávamos centenas de quilômetros nos fins de semana para visitar outros agricultores, trocar ideias, ensinar e aprender”, conta Peeten. O grupo não cobrava pelas palestras.
As minhocas que começaram a aparecer no solo dos novos adeptos do plantio direto, sob a palhada, eram sinal de fertilidade. Assim, elas ajudavam a convencer agricultores que, em muitos casos, passaram anos sem encontrar esses animais em suas terras.
Como o plantio direto era novidade, faltavam máquinas, implementos e defensivos químicos para controlar as plantas invasoras nas lavouras — e sobravam dificuldades. Muitas vezes, era preciso contratar trabalhadores volantes, os boias-frias, para capinar a soja.
“Felizmente, a mecanização agrícola e a indústria de defensivos foram evoluindo, e nós também crescíamos, naquele trabalho de boca a boca”, relembra Peeten. O primeiro Encontro Nacional do Plantio Direto, organizado pelo Clube da Minhoca em Ponta Grossa (PR), reuniu 645 pessoas.
Em 1982, um levantamento da Fundação Cargill demonstrou que o uso do plantio direto já ocorria em 260 mil hectares de lavouras. A palha protegia o solo da erosão e gerava matéria orgânica, o que aumentava a fertilidade da terra. Sem precisar arar e gradear o solo, os agricultores economizavam 60% em óleo diesel e ganhavam tempo, fazendo duas safras no ano. Era um caminho sem volta.
O Clube da Minhoca deu origem à Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp). A entidade estima que, atualmente, os produtores rurais adotam o sistema em 33 milhões de hectares de lavouras.
Hans Peeten retornou à Holanda em 1990, pensando nos estudos dos filhos. Kitty, que nasceu em 1976, é enfermeira, e Rudie, um ano mais novo, agrônomo.
O agrônomo pioneiro vive hoje em Valkenswaard, no sul da Holanda, mas ainda se vê como um missionário da agricultura brasileira. Com chapéu da Febrapdp na cabeça, ele fez uma palestra no IrrigaShow, evento que a Associação do Sudoeste Paulista de Irrigantes e Plantio na Palha (Aspipp) realizou recentemente em Campos de Holambra, distrito de Paranapanema (SP). Sob homenagens e muitos aplausos, ele encerrou o encontro com palavras de ordem: “Sujem os dedos terra e cuidem dos seus solos”.