A NetZero, greentech franco-brasileira especializada na produção de biochar, está diversificando suas operações no Brasil. A empresa vai construir sua primeira fábrica de biochar a partir da palha e do bagaço de cana-de-açúcar, em Campina Verde (MG). O investimento será de R$ 15 milhões, todo com recursos próprios. A unidade deve começar a operar em fevereiro de 2026.
Leia também
Oferta restrita sustenta alta de fertilizantes
Yara aumenta investimento na produção de bioinsumos
Produtores dos EUA enfrentam pior poder de compra de fertilizantes desde 2010
“Começamos com a cana em Minas Gerais porque achamos um parceiro motivado e porque a nossa sede no Brasil é em Minas Gerais. Mas temos mais conexões e já estamos olhando para os Estados de São Paulo e Goiás na cana-de-açúcar”, diz Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da NetZero.
Fundada em 2021, a empresa tem quatro plantas que produzem biochar a partir da casca do café no Brasil e uma na África. Cada uma tem capacidade de fabricar 4 mil toneladas por ano. A unidade que processará palha e bagaço de cana terá a mesma capacidade.
A fábrica terá um novo sistema de produção, apresentado em março, chamado “Gen2”. A unidade será estruturada em contêineres, com menor área ocupada e menor uso de concreto e aço.
A NetZero avalia que a matéria-prima das usinas de cana tem um “potencial singular” para a fabricação de biochar. Estimativas próprias, com referência em publicações técnico-científicas, apontam que a cadeia produtiva da cana gera, por ano, cerca de 700 milhões de toneladas de resíduos no mundo, dos quais 40% estão no Brasil.
“No café, há uma sazonalidade. Na cana, há uma geração de bagaço e de palha praticamente o ano inteiro”, compara. “Na cana, vamos fazer projetos muito maiores”, acrescenta.
Olivier Reinauld, da NetZero: “Na cana, vamos fazer projetos muito maiores”
Divulgação
Nesta primeira fábrica, a palha de cana será fornecida pela Brunozzi Agropecuária, e o bagaço virá de outras usinas da região. Os próprios fornecedores serão os usuários do insumo. Esse modelo circular de negócios é o mesmo já utilizado na cafeicultura, em parceria com empresas com a Nespresso.
A companhia não divulga seus dados financeiros, mas afirma que metade de sua receita anual atualmente vem do formato de parcerias com fornecedores. A outra metade vem da geração e venda de créditos de carbono associados ao biochar. Esse tipo de carvão vegetal é considerado de alto potencial de retenção de gás carbônico no solo e tem alta capacidade de geração de créditos de carbono.
“Os créditos de carbono chegaram como uma maneira de colocar o biochar a um custo mais acessível para os produtores, além de possibilitarem um modelo de larga escala”, explica Reinaud.
O executivo ressalta que a estratégia da NetZero hoje segue concentrada na construção de novas plantas e inclui aumentar a capacidade nas já existentes.
“Quando pensamos em construir uma planta, avaliamos a quantidade de biomassa disponível, e o tamanho da planta acaba sendo menor. A ideia é começar pequeno e adicionar investimentos para aumentar a capacidade”, afirma.
Segundo Reinaud, a NetZero avalia diversificar para a obtenção de resíduos de outras culturas, além de café e cana, mas depende das condições de cada cadeia produtiva. “Nossa estratégia não é a de pegar todas as biomassas possíveis, mas de construir modelos adaptados. Isso leva tempo.”