
O ex-secretário de política agrícola e coordenador do Centro de Estudos em Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), Guilherme Bastos, não vê muito espaço, neste momento, para o Brasil chegar a um acordo com os Estados Unidos em relação à imposição de novas tarifas de importação e aposta em uma prorrogação das negociações.
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“O Brasil é mais afetado pelo tarifaço do que os Estados Unidos. A gente conta com a pressão do setor privado americano sobre as decisões do governo Trump, mas eu não vejo muita chance de ver uma solução até 1º de agosto”, afirmou Bastos, durante o X Congresso Brasileiro da Soja, em Campinas (SP).
Ele observou que hoje a preocupação recai principalmente sobre produtos perecíveis, como frutas e pescados, mas há também preocupação com a importação de peças para a produção de aviões pela Embraer, o que afeta uma parte relevante das exportações brasileiras de produtos manufaturados.
“Vai ter um processo doloroso. A gente vê que alguns embarques já começam a não acontecer, porque os importadores americanos não sabem quanto vão pagar no fim para o produto chegar lá. É uma nova realidade e já se começa a falar em uma prorrogação. É uma tática de guerra para trazer para a mesa de negociação. A gente tem que avançar na negociação o quanto antes. Nessas horas, não adianta levantar a cabeça, mas ter cabeça, porque eles são mais fortes”, afirmou Bastos.
Safra 2025/26
Em relação à safra 2025/26, Bastos disse que o Brasil terá uma safra com muitas incertezas. “Temos esse problema com os Estados Unidos e a gente não sabe para onde vão as realocações daquilo que ia para os EUA. A gente também não sabe como os países vão reagir com relação à demanda. Dado o nível de incertezas, pode haver alguma desaceleração”, afirmou Bastos.
Ele também considerou que os produtores brasileiros sofreram perda de rendimento nas últimas safras e entram na safra nova com menos caixa e um Plano Safra com taxa de juros ainda alta, o que pode afetar os investimentos na lavoura. “Vamos ver como vai ser a velocidade de tomada desses recursos, porque por enquanto não há indício de redução de área”, disse Bastos.
Em relação às exportações de carnes para os Estados Unidos, o coordenador do FGV Agro diz que é complicado para o Brasil realocar os embarques para outros países devido às características dos produtos que vão para o mercado americano. “Pode voltar produto para o mercado interno, mas o Brasil não tem capacidade de consumir esse excedente. Então pode ter um impacto na inflação de curto prazo, mas desarruma a cadeia, tendo reflexos negativos lá na frente”, observou.
*A Embrapa forneceu hospedagem à jornalista.