
O Dia Internacional das Mulheres Rurais é celebrado em 15 de outubro desde 1995, uma data escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para que a sociedade reflita sobre o papel essencial que essas mulheres desempenham nos sistemas agroalimentares ao redor do mundo. Elas atuam em todas as etapas produtivas, realizando atividades operacionais e administrativas.
Contudo, enfrentam desvantagens em questões como acesso a financiamentos, tecnologias, igualdade de direitos e oportunidades. Essa desigualdade no acesso à informação e recursos financeiros impacta a produtividade, logo toda a sociedade perde com o desequilíbrio de gênero.
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Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), indicam que quase 11 milhões de mulheres trabalharam no agronegócio brasileiro no terceiro trimestre de 2025.
O estudo revelou que o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho tem ocorrido a um ritmo mais acelerado do que o dos homens, mas as mulheres ainda representam apenas 18,64% das atividades agropecuárias.
Nos últimos anos, percebe-se um aumento significativo na mobilização de mulheres ligadas ao agro, facilitando o acesso a informações, mercados, capacitação e melhores negócios. No entanto, o impacto real dessas ações e seus benefícios para as envolvidas e as instituições promotoras ainda são pouco conhecidos. Pesquisas são necessárias para compreendermos tanto os avanços quanto as barreiras enfrentadas.
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Algumas iniciativas merecem destaque, como a pesquisa “Mulheres na Produção Rural”, realizada pela Agroligadas com apoio da Corteva Agriscience, Abag e Sicredi, que ofereceu um panorama sobre o tema no Brasil a partir de entrevistas realizadas em 2018 e novamente em 2021.
Na comparação entre os dois levantamentos foi possível identificar uma mudança positiva quando o assunto é satisfação no trabalho: 97% delas afirmaram em 2021 que se sentem felizes com o trabalho que realizam, contra 57% reportado em 2018. O reconhecimento de suas habilidades no setor saltou de 45% em 2018 para 77% em 2021, e a percepção sobre a autonomia na tomada de decisões dobrou de 33% para 60% na pesquisa mais recente.
Em 2021, 93% das entrevistadas disseram ter muito orgulho de trabalhar no campo ou na indústria agrícola, apesar de 64% reconhecerem a desigualdade de gênero no setor e 54% afirmarem que ganham menos que os homens. O acesso a financiamentos, essencial para produtores rurais, também é um desafio, com um terço das mulheres relatando acesso inferior ao dos homens. Ainda assim, 79% afirmaram que a situação melhorou em relação a dez anos atrás.
A partir dessas constatações, fica claro que estamos avançando, mas ainda é necessário que o poder público, as empresas e a sociedade civil tomem iniciativas em prol da igualdade e de oportunidades para as mulheres no agronegócio. A educação desempenha um papel fundamental, capacitando e incentivando o protagonismo das mulheres para que reconheçam seu papel e sua importância em um contexto mais amplo, adquirindo voz e assertividade na tomada de decisões.
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Foi justamente a necessidade de cursos que motivou a criação da Academia de Liderança para Mulheres do Agronegócio (ALMA) em 2018. A ALMA surgiu a partir de uma iniciativa da Corteva Agriscience, inspirada por uma pesquisa coordenada pela empresa para conhecer os anseios das mulheres rurais ao redor do mundo. O estudo em questão revelou que 89% delas gostariam de ter acesso a treinamentos. Este foi o ponto de partida para a criação de um programa de educação continuada dedicado às produtoras rurais da Corteva em parceria com Abag e, desde 2022, FIA Business School.
As mudanças nas leis e costumes são necessárias, mas lentas. Estratégias empresariais podem provocar mudanças de forma mais rápida. Estamos progredindo, mas ainda há um longo caminho para alcançar o equilíbrio de gênero no Brasil e no mundo. O tempo necessário para essa mudança será determinado pela conscientização de que esse é um problema de todos, com impactos culturais, sociais e econômicos.
*Rosemeire Santos, Líder de Relações Governamentais da Corteva Agriscience e Coordenadora da ALMA – Academia de Liderança de Mulheres no Agronegócio e Christiane Leles Rezende De Vita, coordenadora adjunta do PENSA (Centro de Conhecimento em Agronegócios), da FIA Business School e coordenadora pedagógica da ALMA
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