Desde 2023, Anderson da Silva cultiva verduras hidropônicas no Sítio Morada do Sol, em Votorantim (SP). Na propriedade são colhidos cerca de 5 mil pés de hortaliças por semana, uma produção que está distribuída em 10 estufas.
Leia também
O ‘mar de plásticos’ que abastece a Europa com tomates
Como plantar pepino? Aprenda dicas e curiosidades
Como plantar coentro da forma correta? Aprenda
Este ano o produtor resolveu dobrar a produção. Para isso adquiriu seis novas estufas, cinco para o cultivo de alface e uma para a rúcula. O cultivo protegido é essencial ao negócio de Silva, pois impede que as verduras sofram com a mudança brusca de temperaturas e eventos como o registro de geadas ou fortes ondas de calor. “Conseguimos manter o volume e o padrão da nossa produção com qualquer clima, sem nenhuma perda”, conta.
Produtores como Anderson da Silva têm contribuído para manter o mercado de estufas aquecido há mais de quarenta anos no Brasil. Segundo o agrônomo Antonio Bliska, pesquisador da Unicamp e presidente do Comitê Brasileiro de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura, a evolução pode ser medida pelo número de empresas que atuam no País.
“Há 40 anos, existia apenas um fabricante de estufas metálicas no País. Hoje são mais de 40 empresas, que abastecem um mercado que já soma cerca de 35 mil hectares cobertos com estufas e outros 100 mil hectares com mulch”, explica Bliska. Mulching é uma prática de cobertura do solo com filmes plásticos para a proteção do cultivo. É utilizada em diversas culturas e indicada para evitar danos climáticos no solo, gerando melhores resultados nas lavouras.
Anderson da Silva cultiva verduras hidropônicas no Sítio Morada do Sol, em Votorantim (SP)
Anderson da Silva/Arquivo pessoal
Embora não haja estimativas sobre o tamanho deste mercado no Brasil, o relatório da Research And Markets indica crescimento de 4,9% ao ano para o mercado de estufas comerciais da América do Sul, que deve saltar de US$ 337 milhões em 2022 para US$ 471 milhões em 2029, com destaque para o desempenho no Brasil, na Argentina e na Colômbia. Segundo o estudo, espera-se que o Brasil lidere o mercado durante o período previsto, enquanto a Argentina deverá ser o país com crescimento mais rápido.
Na avaliação de Alberto Joanes Wagemaker, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Estufas Agrícolas e seus equipamentos (Abeagri), a produção de estufas ainda é uma atividade bastante promissora no Brasil. “Estamos falando de um mercado relativamente novo, que tem fôlego para crescer a taxas entre 15% e 20% ao ano pelos próximos quinze anos”, estima.
Práticas agrícolas modernas
As vendas de estufas no Brasil crescem impulsionadas por diversos fatores. A partir dos anos 1980, as cadeias de frutas, hortaliças, legumes, flores e plantas ornamentais encontraram no cultivo protegido uma opção segura de plantio durante todo o ano. Nos últimos anos, a produção de mudas também incorporou o cultivo protegido como prática padrão, com destaque para citros, cacau, café e seringueira. Neste cenário, Bliska conta que novas aplicações vêm surgindo, desde estufas para multiplicação de agentes biológicos até estruturas para secagem de resíduos sólidos.
“Hoje, quem investe está buscando mais do que proteção: quer previsibilidade, controle ambiental e padronização de produção”, afirma Jonas Zanatta, diretor de engenharia da Estufas Zanatta, fundada há 38 anos e uma das maiores do setor, com uma fábrica em São Antonio da Posse (SP), cinco filiais no Brasil e a primeira filial internacional recém-inaugurada no Uruguai.
Estufa em cultivo de morango em Senador Amaral (MG)
Antonio Bliska Júnior/Nipea-Unicamp
Pequenos agricultores investem em estufas a partir de 9 metros quadrados. Já os maiores operam com projetos que cobrem vários hectares. Neste cenário, Zanatta explica que é crescente o interesse por estruturas modulares e sistemas complementares, como sombreamento, climatização automatizada e irrigação localizada.
“Embora a maior parte das nossas vendas ainda seja da estrutura básica, a automação vem crescendo muito, especialmente entre produtores que buscam maior controle sobre o ambiente produtivo”, diz o diretor.
Nos últimos cinco anos, as vendas da Zanatta cresceram de 15% ao ano, destinadas especialmente para o estado de São Paulo, que concentra 40% das comercializações da empresa. O restante é pulverizado pelo País, “exceto para região Norte que ainda está com baixo nível de investimentos”, afirma.
Espaço para crescer
Outra grande fornecedora de estufas, a Plantfort, vem registrando desempenho acima da média, com taxas de 30% de crescimento anual nos últimos anos. “Nosso desempenho positivo se deve ao crescimento dos nossos clientes, alguns dos quais compram conosco desde que a empresa nasceu há 33 anos atrás”, conta Priscila Di Salvo, diretora administrativa da empresa.
Em 2024, por exemplo, 20% das vendas foram realizadas para novos clientes e 80% para clientes antigos. “Queremos ser referência em melhor estrutura e o melhor custo-benefício. A gente não vende projetos que darão problemas no futuro e isso tem fidelizado nossa clientela”, diz José Carlos Di Salvo, diretor-executivo da Plantfort, que projeta um crescimento de 20% ao ano nos próximos cinco anos.
Para Bliska, o mercado nacional ainda tem muito espaço para crescer. “Em culturas como folhosas e tomate de mesa, por exemplo, menos de 5% da produção está sob cultivo protegido”, observa. Para ele, à medida que o consumidor se torna mais exigente, especialmente em relação à qualidade e à regularidade do fornecimento, a tendência é que as estufas se tornem cada vez mais indispensáveis. Além do Sudeste, regiões como o Sul e o Centro-Oeste vêm se destacando na instalação de novas estruturas.
Pesquisas de café em viveiro
Antonio Bliska Júnior/Nipe-Unicamp
Outro ponto que contribuiu para o longo período de crescimento do setor é design das estufas, que evoluiu bastante nas últimas décadas. As estruturas estão mais altas, com melhor circulação de ar e mais robustas, construídas principalmente com aço galvanizado, alumínio e filmes plásticos de alta durabilidade.
“Alguns anos atrás havia um tipo de plástico, que era o transparente. Hoje temos uns sete plásticos diferentes, o difusor de luz, o leitoso, um que permite menor aderência de poeira, e assim por diante. Então, toda a parte química de produção desses plásticos também está sendo estudada e evoluindo ao longo do tempo”, conta Bliska.
Desde 2012, a produção de estufas comerciais conta com uma norma técnica específica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a NBR 16032, que define critérios para resistência estrutural e a segurança das estufas, especialmente as de grande porte. Esse avanço normativo elevou o padrão de qualidade do setor e impulsionou a profissionalização da construção dessas estruturas.
Os preços variam conforme o grau de tecnificação adotado, com uma estrutura básica podendo custar cerca de R$ 50 por metro quadrado, enquanto estufas totalmente equipadas com sistemas de irrigação, climatização e automação podem ultrapassar os R$ 1.000 por metro quadrado. “Depois de consolidar a ampliação da minha produção o próximo passo será investir na automação das estufas”, planeja o produtor Silva.